sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Garfos desalinhados e o leitão assado

Conhece-se o restaurante pelos talheres colocados á mesa. Pode até ser de qualidade popular, mas jamais ter garfo despenteado ou torto, aquele que cada ponta aponta para um lado, uma para a garganta, uma para a boca, outra para o nariz e finalmente uma para os olhos. 
Nunca confie numa refeição que se aproximando da língua e suas papilas gustativas sem saber se será palatável, mastigável, e principalmente deglutida. Comer além de alimentar, pressuposto básico, e fornecer algum prazer, do contrário a probabilidade de que você termine empoderado num trono será razoável.
O mesmo pode-se dizer de bicicletas nas quais cada roda quer ir para um lado. Via de regra a culpa é do garfo (da bicicleta). O mínimo que se espera desta máquina de transporte maravilhosa, a bicicleta, é que quem esteja no comando seja você e não um garfo torto. É fácil sentir o desajuste, não só porque a bicicleta luta desesperadamente para levar seu senhorio para um dos lados, ou para um poste, meio fio. até mesmo às grades do carro que vem na contramão. Não solte a mão do guidão, não ouse fazê-lo, tombo na certa.
Garfo desalinhado na boca, entre as pernas, ou quer que esteja nunca é bom negócio.

É lógico que há marcas de bicicletas de tão baixo calão nas quais, talvez por uma questão de design pós industrial ligado a cultura do descarte, o quadro visto de cima tem o charme estético de uma meia lua. São bicicletas excelentes para pedalar em rotatórias. Mas, senhoras e senhores adeptos do surrealismo, via de regra o desalinhamento do rodar da bicicleta se deve ao garfo mal mal fabricado.

Aquela bicicleta novinha está linda. Já passou por mim várias vezes. Quadro em cor viva, das que me agrada muito, sem uma marca, um grafismo limpo. Garfo preto. Rodas 29, peças pretas, nada de frufrus, só o básico essencial, chique. Mas voltou ao mecânico e perguntei porque. "Porque?!" respondeu na gozação o mecânico, me colocou a bicicleta na mão e subi nela. Bastaram uns poucos metros pedalando, não mais que uns 10, e meu veredito estava formado: garfo torto! Barbada! Na mosca! "Bicicleta caranguejo, sai de mim, vá de retro!"
Mecânico rindo, parei a bicicleta, soltei a blocagem para o prazer dele, mecânico, e tentei alinhar a roda no garfo. Ai é que a roda ficou mais desalinhada ainda. 
- Como assim, bicicleta novinha veio com este garfo? 
- Está na garantia" responde o mecânico e completa, Não é este garfo, é um monte de garfo que vem assim, uma vergonha. Daí você entrega a bicicleta para o cliente e ele fica bravo, com razão. 
- Mas como pode uma coisa destas sair da fábrica, ser vendida pelo distribuidor, pela bicicletaria, e pior, ser aceita por muito proprietário que se diz ciclista? 
- Ora, pode, e como pode! Afinal, posso estar louco, mas estamos no Brasil, termina o mecânico.

O jantar era de gala. A fina dama da sociedade serviria um leitão ao forno. Deixou a criadagem trabalhar, mas teve cuidado especial com a nova empregada. "Antes de levar o leitão à mesa coloque uma maçã na boca (do leitão, é lógico). E como pedido pela senhora o fez: entrou carregando a maravilhosa bandeja de prata com o leitão que deliciava a todos com seu aroma e uma maçã na própria boca. (Baseado num fato real)

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