quarta-feira, 8 de novembro de 2017

A percepção da sinalização como causa dos acidentes

-52% atropelamentos; -20% colisão lateral; -37% colisão traseira; -67% colisão frontal; -80% capotamento; -50% outros; -55% total. Esta é a redução dos acidentes na rodovia Régis Bittencourt, antes conhecida como "Rodovia da Morte". Ok, este texto é praticamente um ctrl C - ctrl V de um encarte publicado no O Estado de São Paulo dia 11 de Setembro de 2017 sobre o 4º Fórum de Segurança da Arteris, concessionária que cuida da Régis Bittencourt desde 2008, mas tem umas linhas que são bem interessantes. E seguindo o informe leia-se:
Um  estudo realizado com a USP, por exemplo, usou simulador para reproduzir uma parte crítica da rodovia e verificar a percepção do motorista em relação a diferentes sinalizações. "Mudamos a distância e a posição das placas, aumentamos e diminuímos seu tamanho, trocamos as cores e verificamos qual combinação resultava na reação mais rápida", descreve Angelo Lodi, diretor operacional corporativo da Arteris. "Implantamos a nova proposta de sinalização a partir desses resultados e tivemos declínio de acidentes. Agora estamos repetindo o estudo em mais pontos críticos". Ou seja, individualizaram os problemas e usaram a inteligência para encontrar soluções também individualizadas. Passaram a pensar na realidade e atuaram um pouco fora da regra (leia-se o uso burro e literal do CTB) para que efetivamente dessem resultados. 

"Precisamos pensar na segurança do ciclista". Como? Segundo quem falou a frase aplicando literalmente o CTB. Enquanto se pensar segurança no trânsito sob este ponto de vista continuaremos tendo o banho de sangue que temos aqui neste Brasil. O CTB é a lei, a regra, mas o próprio código dá chance para variações, inteligências, o que por diversas razões não é entendido e usado.

Pouco ou nada adianta colocar uma placa "PARE" direcionada para ciclistas numa ciclovia com tamanho, formato e altura estabelecidas pelo CTB, tida como própria para quem conduz veículo motorizado, como acontece em algumas das ciclovias paulistanas, em particular na av. Faria Lima. O ciclista passa batido e não vê; não vê porque não vê mesmo, não por má fé. Pior, em algumas destas situações o posicionamento da sinalização está em posição duvidosa: para quem será direcionada? 
Não adianta querer delirar com o CTB que reza que a bicicleta é um veículo e que seu condutor tem respeitar as leis. Primeiro, leis feitas por quem?; depois para quem? Alguma ordem, leis, tem que ter, é óbvio, mas que atenham-se a realidade, não ao delírio de um punhado de espertos, entenda-se ai o que quer que quiser da palavra espertos. 
A esta altura do banho de trânsito que corre pelo Brasil deveria ser obrigatório que os responsáveis pela segurança no trânsito fossem obrigados a ter formação prática em todas as modalidades de transporte, nas mais diversas situações de trânsito, centro, periferia, vias expressas... O que não se pode mais é aceitar que alguém com formação só em leitura, por mais leitura que tenha, dite o que é real ou não, o que é seguro ou não. É absolutamente inaceitável que alguém que simplesmente tenha medo de pedalar em situações reais, comuns aos usuários do dia a dia, dê consultoria técnica ou trabalhe em projetos de engenharia de trânsito. É lógico que dá merda, a prova irrefutável está ai em números apavorantes. 
A brincadeira - e só pode ser tomada como brincadeira - de multar pedestres e ciclistas a partir do ano que vem veio do DENTRAN é mais uma prova deste país da fantasia que eles vivem. Quem quer que tenha tido esta brilhante ideia, das multas, com certeza nunca caminhou numa estrada conurbada, tentou cruzar o rio Pinheiros da favela do Real Parque para Moema. Será que o pedestre infringe a lei porque é burro ou porque a próxima faixa de pedestre está a 500 metros, o caminho mais lógico e curto está ali na frente? Este pessoal nunca viu o que há de mais moderno e eficiente para sinalização voltada para ciclistas provavelmente porque não aceita que a leitura que o ciclista faz do trânsito é muito diferente da de um condutor de veículo motorizado. 
A bem da verdade tenho certeza que o olhar destes senhores é viciado, o que é absolutamente normal, humano, acontece com todos nós. O óbvio é um polvo grudado no nariz que somos incapazes de enxergar. A diferença é que não ver a realidade diária do povo custa vidas. E como custa! Os números trágicos não mentem.

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