quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Ciclistas assassinados? Como assim?

Mais uma vez recebi uma mensagem na qual se lê

ciclistas foram assassinados... Os dois casos acabam de acontecer em Manaus.
  
Pelo que se entende do que li nesta mensagem o processo sobre estes acidentes em Manaus envolvendo os dois ciclistas estão transitados e julgados e os responsáveis foram considerados por jure popular culpados por homicídio doloso, provavelmente dolo direto, vulgo assassinato.
Palavras tem peso. Não medir palavras normalmente gera atritos, o que via de regra é contra produtivo. Deixar portas abertas é bom para qualquer processo, até quando um “inimigo” está envolvido.
Qualquer sistema que seja realmente seguro evita afirmações drásticas porque levam a desvios, a erros, a enganos e não a verdade.  Só se chega a segurança através de uma análise fria, algumas vezes dolorosa, dos fatos reais. Segurança está diretamente ligada à verdade, nunca a especulações. Especulações geralmente levam a repetição do acidente.
Mesmo que não haja qualquer dúvida sobre o culpado é sempre recomendável perguntar “bom, e aí, o que mais, o que está faltando neste quebra-cabeças?”. Quanto mais dúvida sobre o que parece lógico mais se caminha no sentido da segurança.


  • Poucos aqui no Brasil levam em consideração a condição da via e do local onde ocorreu o acidente. Caso via ou localidade não estejam em conforme com a lei (e com o bom senso), o que é comum principalmente no viário brasileiro, a responsabilidade também deve ser imputada a quem é responsável dentro do poder público.
  • É relativamente comum ocorrerem acidentes que são causados por falha mecânica da bicicleta, ou falta de refletores, obrigatórios por lei e importantíssimos para a segurança do ciclista na falta de luz do dia.
    O próprio setor da bicicleta reconhece que há um problema (que considero gravíssimo) de qualidade nas bicicletas nacionais, que falham e ou quebram com facilidade colocando em risco o ciclista. Uma das concessionárias de rodovias de São Paulo, se não me falha a memória a da rodovia que passa por Rio Claro, levantou dados que apontam que mais de um terço dos acidentes fatais com ciclistas ocorrem por falha mecânica da própria bicicleta.
    Os refletores fabricados e distribuídos no Brasil têm fixação à bicicleta frágil e, via de regra, caem ou mudam da posição correta, se transformando em objeto inútil. A falta de um refletor é responsabilidade do ciclista, do fabricante da bicicleta ou do governo que não controla a qualidade destes?
  • Bicicleta é considerado pelo CTB um veículo, portanto o ciclista é condutor de um veículo.  Vendo a situação como ciclista sei que tem muito ciclista que pedala mal ou de forma imprudente. Mesmo que o ciclista não tenha responsabilidade no acidente é útil para segurança de todos tentar ver o que este ciclista poderia ter feito diferente.  
  • Não cumprimento da responsabilidade sobre a educação pelo trânsito...
  • Problemas na manutenção da frota de veículos...
  • Falta de polícia técnica e legistas...
  • Falta de banco de dados confiável...
  • DENATRAN que ficou um ano sem presidência e inoperante...
  • CTB com falhas e rodoviarista...
  • Técnicos mal treinados...
  • Falta de verbas...
  • Silêncio macabro da sociedade, de toda sociedade, sem nenhuma exceção, com o genocídio geral...
  • Etc...
  • Etc...
Fico muito feliz que os ciclistas pressionem as autoridades, mas me preocupa este tipo de discurso, mesmo que seja de uns poucos. O Brasil é um dos campeões mundiais de violência e só vamos sair desta situação horrorosa quando começarmos a buscar as verdadeiras razões para este banho de sangue. Apontar o dedo na cara do outro só vai prolongar nossa absurda agonia.

Como ciclista tenho certeza de minhas responsabilidades com a sociedade, com o Brasil, não só com os ciclistas. Acredito piamente que a bicicleta pela bicicleta só complica, só atrasa, só serve para uns poucos.

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