quinta-feira, 6 de outubro de 2016

2007 - perspectivas para as bicicletas e mobilidades ativas


Encontrei sem querer este texto foi enviado para a Pedal.com em 2007. Faz uma avaliação sobre como estava a questão da bicicleta e das mobilidades ativas. Publico como complemento, referência e um pouco de autocrítica. Creio que avançamos muito, graças principalmente a mídia social ciclística, mas creio que poderíamos estar muito mais a frente.

Passei praticamente todas as férias da década de 70 na Argentina e acompanhei a tragédia que o Peronismo e os Militares fizeram com aquele maravilhoso país. A população viveu anos acreditando em gente que não merecia crédito nem na mesa de um bar. Infelizmente vivemos uma situação no Brasil que a mim parece muito parecida. “Me engana que eu gosto”, esta é nossa verdade. Em nome do social e de um pseudo-socialismo se faz coisas inacreditáveis e ninguém enxerga ou quer reagir. Mas, todos sabemos, eles não sabiam de nada. E seguramente somos todos idiotas – lá e aqui.
Todo brasileiro é pedestre e o veículo mais usado no Brasil é a bicicleta, com 45 milhões de ciclistas rodando no dia a dia. A frota de automóveis e motos é menor, assim como o número de usuários, mesmo assim a matemática das verbas gastas pende completamente para o lado deles. Os governos gastam praticamente zero com não motorizados. Mas tem gente que ainda acredita que aqueles que nos enganam que estão falando sério e fazendo algo.
A situação de pedestres, ciclistas, crianças, idosos, deficientes, e outros não motorizados nas cidades brasileiras, talvez em especial em São Paulo, é muito ruim por várias razões e responsabilidades. Uma delas, e crucial no contexto, é a inexistência de pressão para que se melhore as suas condições de vida. Os próprios prejudicados desinteressam-se e desconhecem seus direitos, e entendem como natural o lugar e o poder do automóvel. E no caso dos ciclistas ficam naquele discurso de “ciclovias”, “capacete” e outras inconsistências mais. Saber o que está acontecendo de fato e exercer pressão legitima e eficaz nicas!
Mas pelo menos no caso da bicicleta há luz no fim do túnel. O que deixa feliz é o efeito “Internet” que vem agregando ciclistas, muitos deles ativistas, e alguns resultados já estão aparecendo. Mesmo que a informação e discussão gerada por sites, blogs, e grupos de discussão algumas vezes caia em velhos pecados e esteja distante da realidade, a quantidade e qualidade do que está surgindo aí é muito boa. Há algumas lideranças com excelente base de formação e consistência de posições.
Há uns dias foi realizada a criação oficial da UCB – União dos Ciclistas do Brasil - http://www.uniaodeciclistas.org.br/ , que aconteceu no Rio de Janeiro. Reuniram-se algo em torno de 70 pessoas, das mais diversas partes deste Brasil. Algumas fizeram apresentações de seus trabalhos e ações e o que se pode ver foi qualidade. Mesmo nas conversas informais era impressionante o nível de amadurecimento da elite pensadora da bicicleta no Brasil. Bravo!
A UCB vem completar o triângulo básico necessário para que as coisas andem de fato. Já havia entidades representantes das indústrias e do setor de bicicleta (http://www.abraciclo.com.br/ ; http://www.abradibi.com.br/ ; http://www.simefre.org.br/ ), organismo misto do setor e sociedade civil ( http://www.pedalabrasil.com/ ); do Governo Federal ( http://www.cidades.gov.br/ ) e aos poucos surgem os órgãos municipais. Faltava um representante oficial dos ciclistas para fechar o tripé e aí está. A base está criada e tem boa qualidade.
O que nos falta agora é um “bike advocacy”, um grupo de advogados que trabalhem única e exclusivamente para a questão da bicicleta e afins. E esta questão está sendo de novo levantada e agora parece que vai sair. Demora um pouco, mas vai sair. E aí teremos de fato a base estável, um quadripé. Aliás, não se deve deixar de fora desta base as entidades internacionais que estão auxiliando muito neste processo.
O próximo passo é afinar o discurso geral. Descobrir as lideranças e burilá-las.

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