segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Pedestres: falta de respeito de ciclistas

Nome: Valter Neto
Cidade: São Paulo
UF: SP
replyto: val_neto@yahoo.com.br
Mensagem: É um absurdo a falta de respeito e a agressividade com que os ciclistas (maioria esmagadora) agem contra nós pedestres.
Acham que as famigeradas "ciclofrias" são exclusivamente suas e esquecem que há travessias, faixas exclusivas e semáforos para pedestres.
As "ciclofrias" da Paulista, Faria Lima e Berrini são os piores exemplos desse descaso dos ciclistas.
O Prefeito Dória já prometeu uma audiência para a nossa APESP - Associação Pedestres de São Paulo que irá pedir o fim da maioria das "ciclofrias", principalmente àquelas mal pintadas sobre as calçadas.
A primeira delas será a criminosa sob o minhocão. Depois o Centro todo...e assim por diante...!!!
Vamos também apresentar um Projeto de Lei que punirá severamente ciclistas criminosos que desrespeitarem os pedestres e cadeia para àqueles que provocarem atropelamentos e ferimento em pedestres.
Além disso, vamos pedir para a nova GCM - Guarda Civil Metropolitana, usar o Etilômetro "Bafômetro em ciclistas e apreensão de bicicletas.
O cerdo vai começar a se fechar para os ciclistas. A moleza Haddadeana PeTralha acabou!
APESP

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Valter Neto
bom dia

Concordamos com você. Infelizmente há uma série de erros na implantação e estímulo do uso da bicicleta no Município de São Paulo, começando pela falta um programa massivo de educação e treinamento para os ciclistas e demais componentes do trânsito, que deveria ter sido até mesmo passo anterior à implantação de qualquer estímulo para ciclistas. Vendeu-se uma quilometragem de vias para ciclistas e só, não a melhoria da qualidade de vida da cidade e seus cidadãos. O pedestre, já sempre tão maltratado, passou a enfrentar mais uma situação ruim.
Mesmo as ciclovias "mais bem feitas" (segundo a opinião dos ciclistas) tem erros básicos de projetos que geram conflitos, em especial com os pedestres. Sou ciclista, pedestre, motorista e usuário de transporte público e também não aceito a atual prepotência de muitos ciclistas, mas a experiência diz que esta situação tende a melhorar, tanto pela mudança de postura da administração pública como pelo amadurecimento dos próprios ciclistas. Mesmo assim é óbvio que se deve tomar providências o mais rápido possível no sentido de mudar a situação atual.
Costumo dizer em palestras e entrevistas que "Não é a bicicleta que importa, mas a cidade e seus cidadãos. A bicicleta deve ser mais um instrumento de melhoria da qualidade de vida de todos, não só do ciclista".
Infelizmente nossas leis dificultam muito a punição de ciclistas infratores. Por exemplo, eu adoraria que as ciclovias fossem vigiadas por radares, como acontece em várias partes do mundo. Como ciclista e tendo tido experiência em competições considero um absurdo a forma que vários ciclistas se comportam não só no trânsito, mas principalmente quando pedalam em ciclovias, como as citadas por você. Não tenho dúvida que é muito mais agradável conviver num trânsito tranquilo que tenha como parâmetro a segurança de mulheres, mães, crianças, idosos, e pessoas com deficiência de mobilidade ou qualquer tipo de dificuldade.
Como vocês, da APESP, continuaremos trabalhando para uma cidade mais civilizada. Não temos nada a ver com o que foi feito. Nossas propostas são outras.
Infelizmente não consegui agir para mudar os fatos acontecidos; provavelmente por erro meu.
Poderíamos tomar um café e trocar ideias?

Arturo Alcorta
Escola de Bicicleta
11 992 488 747



quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Romaria para Apareida do Norte


Quantos não são os medos que nos tiram felicidade ou nos atiram a falsos prazeres da vida? Por que esperar tanto? Por que fazer o que não gosta? Por que não esquecer? Por que fazer o que desagrada?
- Fé!

Rodovia Dutra:
- Por onde você vai? Mas é muito perigoso.
- Aparecida do Norte? Porque Aparecida do Norte? Romaria? Não sabia que você era destes.
- Destes? Que “destes”?

A primeira romaria foi para Bom Jesus do Pirapora. Romaria? Não, viagem de bicicleta para descobrir o que seria uma romaria. Descobri o que era uma viagem de bicicleta e até hoje não sei o que é romaria. Basta a romaria nossa de cada dia com suas decisões, indecisões e a necessidade de uma fé, qualquer que seja ela, para seguir em frente.
Numa Caloi 10 1978 azul clara metálica com um bagageiro delicado em aço bem fino e cromado, com dois pequenos refletores vermelhos embutidos numa tira de chapinha traseira também cromada, mochila de lona verde ai amarrada, sai de casa, pedalei na rodovia Castelo Branco, entrei numa estreita estradinha para Santana do Parnaíba, ainda cercada de belezas verdes, e dali o puro prazer até chegar em Bom Jesus do Pirapora, ver as festividades da Fé Cristã, coisa simplória bem diferente dos grandes, bem montados e lucrativos eventos de hoje. Houve uma missa tradicional, sem cantorias felizes que hoje me irritam, mas com todos acompanhando como cordeiros de Deus, puro ato de Fé. Dormi no chão da praça em frente à igreja cercado de fieis do povo todos enrolados em seus cobertores banhados por um frio de rachar. Não havia outro ciclista, não que tenha visto, mas algumas montarias. No dia seguinte tomei um pobre café da manha e segui pela Estrada dos Romeiros sentido Cabreúva e Itu cruzando os romeiros que se encaminhavam para as próximas missas e a tradicional festa. Fé, churrasco, dança, muita bebedeira; o caminho da felicidade que pela eternidade ira persistir. Para a eternidade também.
Foi uma romaria e tanto. Minha bicicleta que o diga. Deus que me perdoe, mas fé nos pedais!


Aparecida do Norte? Oportunidade do momento. E curiosidade pela festa da Padroeira. Estive duas vezes na Basílica, a primeira ainda em construção e a uns três anos quando dei uma entrevista para a TV Aparecida. Vale a visita, independente da fé ou Fé, como queiram. Por que não Aparecida do Norte e rever os romeiros de outrora?
Primeira tentativa de ir pedalando fracassada. Falta de confiança e calor, muito racha coco, mais que aguento. Meia volta no trevo da rodovia Ayrton Senna com a estrada de Mogi com rabo entre as pernas.
(Quantos não são os medos que nos tiram felicidade ou nos atiram a falsos prazeres da vida? Por que esperar tanto? Por que fazer o que não gosta? Por que não esquecer? Por que fazer o que desagrada?)

Aparecida do Norte 2, segunda tentativa, desta vez pela Dutra. Dutra? Calma, é um passeio, não é pagamento de promessa (pagamento é ótimo). A primeira tentativa, pela Ayrton Senna, teve uma boa dose de pirraça, esta segunda foi toda seja o que Deus quiser. Melhor. Bem melhor, na Dutra.

Pinheiros, Centro, Vila Maria e suas curvas simpáticas que levam até Vila Sabrina e Jardim Brasil (Terminal de Carga Fernão Dias), cruzar pelo viaduto a Fernão Dias para Guarulhos, av. Guarulhos, av. Monteiro Lobato, av. Papa João Paulo I, e deixar o pior da Dutra para trás. O que veio daí para frente foi uma grata surpresa: a Dutra é muito mais fácil e agradável de pedalar que eu poderia imaginar; pelo menos até São José dos Campos. Mais cheia de caminhões, que se diga, mas respeituosos.
Os romeiros continuam mais ou menos os mesmos. Pés doloridos, bolhas, passo torto ou mancado, roupas simples, camisetas comemorativas, algumas bandeiras e uns poucos carregando a Santa ou bandeiras. Boa parte vai em grupo, sempre tempo para longas conversas. Aqui e ali um deita na grama e ali fica com suas dores.

Muitos romeiros caminhando pela pista, mais do que eu esperava. Para “mim”, ciclista, bom e ruim. Bom porque os motoristas ficam muito mais atentos e cuidadosos. Há grandes faixas avisando sobre os romeiros espalhadas pela rodovia. E ruim porque se tem que ficar fazendo ultrapassagens, ou, pedalando mais próximo da pista. Conforme o número de romeiros crescia a situação para mim, ciclista, foi piorando até ficar chata um dia antes do Dia de Nossa Senhora da Aparecida, dia 12 de Outubro, quando os caminhantes praticamente desapareceram e o acostamento foi tomado por ciclistas, muitos deles, zoológico completo.
São uns 180 km, que teria feito em dois dias de pedal com tranquilidade. Tive sorte com o vento fraco e constante de popa. Fiz em três etapas, São José dos Campos, onde parei dois dias para ver amigos; Pindamonhangaba, onde parei numa maravilhosa pousada e andei de trem, e um bate e volta Pinda – Aparecida – Pinda, indo pela Dutra e voltando pela Estrada da Luz, SP 062, estradinha de mão dupla paralela à Dutra com asfalto, acostamento e vista divinos, e bem pouco trânsito.
Segui a recomendação de dois romeiros que já fizeram a romaria umas 5 vezes: se quer tranquilidade chegue em Aparecida um dia antes, de preferência antes do final da tarde. A noite entre o dia 11 e 12 a cidade vira uma festa lotada e muito animada e no dia 12 de Outubro Aparecida vira um formigueiro. Tem gosto para tudo.
2017 será a comemoração dos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora por um pescador. Para quem gosta de ver grande festa popular vai ser uma beleza. É bom começar a organizar tudo desde já.

Cheguei em Aparecida dia 11 cedo e ainda peguei a Missa das 9:00 h. Muito tranquila, me fez lembrar a simplória celebração de Pirapora em 1978. Salve Nossa Senhora. Salve Renato Teixeira – “sou caipira pirapora, Nossa Senhora de Aparecida, ilumina a trilha escura, ilumina minha vida...” (maravilhoso)

Quantos não são os medos que nos tiram felicidade ou nos atiram a falsos prazeres da vida? Por que esperar tanto? Por que fazer o que não gosta? Por que não esquecer? Por que fazer o que desagrada?
Fé na vida.


quinta-feira, 6 de outubro de 2016

2007 - perspectivas para as bicicletas e mobilidades ativas


Encontrei sem querer este texto foi enviado para a Pedal.com em 2007. Faz uma avaliação sobre como estava a questão da bicicleta e das mobilidades ativas. Publico como complemento, referência e um pouco de autocrítica. Creio que avançamos muito, graças principalmente a mídia social ciclística, mas creio que poderíamos estar muito mais a frente.

Passei praticamente todas as férias da década de 70 na Argentina e acompanhei a tragédia que o Peronismo e os Militares fizeram com aquele maravilhoso país. A população viveu anos acreditando em gente que não merecia crédito nem na mesa de um bar. Infelizmente vivemos uma situação no Brasil que a mim parece muito parecida. “Me engana que eu gosto”, esta é nossa verdade. Em nome do social e de um pseudo-socialismo se faz coisas inacreditáveis e ninguém enxerga ou quer reagir. Mas, todos sabemos, eles não sabiam de nada. E seguramente somos todos idiotas – lá e aqui.
Todo brasileiro é pedestre e o veículo mais usado no Brasil é a bicicleta, com 45 milhões de ciclistas rodando no dia a dia. A frota de automóveis e motos é menor, assim como o número de usuários, mesmo assim a matemática das verbas gastas pende completamente para o lado deles. Os governos gastam praticamente zero com não motorizados. Mas tem gente que ainda acredita que aqueles que nos enganam que estão falando sério e fazendo algo.
A situação de pedestres, ciclistas, crianças, idosos, deficientes, e outros não motorizados nas cidades brasileiras, talvez em especial em São Paulo, é muito ruim por várias razões e responsabilidades. Uma delas, e crucial no contexto, é a inexistência de pressão para que se melhore as suas condições de vida. Os próprios prejudicados desinteressam-se e desconhecem seus direitos, e entendem como natural o lugar e o poder do automóvel. E no caso dos ciclistas ficam naquele discurso de “ciclovias”, “capacete” e outras inconsistências mais. Saber o que está acontecendo de fato e exercer pressão legitima e eficaz nicas!
Mas pelo menos no caso da bicicleta há luz no fim do túnel. O que deixa feliz é o efeito “Internet” que vem agregando ciclistas, muitos deles ativistas, e alguns resultados já estão aparecendo. Mesmo que a informação e discussão gerada por sites, blogs, e grupos de discussão algumas vezes caia em velhos pecados e esteja distante da realidade, a quantidade e qualidade do que está surgindo aí é muito boa. Há algumas lideranças com excelente base de formação e consistência de posições.
Há uns dias foi realizada a criação oficial da UCB – União dos Ciclistas do Brasil - http://www.uniaodeciclistas.org.br/ , que aconteceu no Rio de Janeiro. Reuniram-se algo em torno de 70 pessoas, das mais diversas partes deste Brasil. Algumas fizeram apresentações de seus trabalhos e ações e o que se pode ver foi qualidade. Mesmo nas conversas informais era impressionante o nível de amadurecimento da elite pensadora da bicicleta no Brasil. Bravo!
A UCB vem completar o triângulo básico necessário para que as coisas andem de fato. Já havia entidades representantes das indústrias e do setor de bicicleta (http://www.abraciclo.com.br/ ; http://www.abradibi.com.br/ ; http://www.simefre.org.br/ ), organismo misto do setor e sociedade civil ( http://www.pedalabrasil.com/ ); do Governo Federal ( http://www.cidades.gov.br/ ) e aos poucos surgem os órgãos municipais. Faltava um representante oficial dos ciclistas para fechar o tripé e aí está. A base está criada e tem boa qualidade.
O que nos falta agora é um “bike advocacy”, um grupo de advogados que trabalhem única e exclusivamente para a questão da bicicleta e afins. E esta questão está sendo de novo levantada e agora parece que vai sair. Demora um pouco, mas vai sair. E aí teremos de fato a base estável, um quadripé. Aliás, não se deve deixar de fora desta base as entidades internacionais que estão auxiliando muito neste processo.
O próximo passo é afinar o discurso geral. Descobrir as lideranças e burilá-las.