segunda-feira, 7 de março de 2016

A pobreza contra a pobreza e o autismo brasileiro

B foi parado pela PM que achou estranho que estivesse pedalando uma bicicleta tão sofisticada. O PM perguntou se ele tinha dinheiro para comprar aquela bicicleta. Ofendido, B respondeu de bate pronto que estava de saco cheio de ser parado e sempre passar pela mesma história. “Pode me levar e levantar o que quiserem", e não parou mais de reclamar. Depois de tomar uns empurrões e ouvir algumas besteiras os PMs entraram na viatura e foram embora. Outro jovem preto tomou uns tapas, foi preso e levado para delegacia pela PM porque estava pedalando sua bicicleta nova, bela e sofisticada, comprada uns dias antes. Infelizmente não prestou queixa.
Histórias como estas são muito comuns. Discurso corrente é afirmar que a PM é treinada como órgão repressor da elite, coisa que vem desde da ditadura militar. É uma reza que serve bem aos objetivos políticos de gente despreparada e em alguns casos de pura má fé. É óbvio que as polícias brasileiras, incluindo a PM, ainda têm ranço do passado, mas será que só isto justifica a torpes dos PMs que tratam seus iguais como malditos? Onde entra o complexo de inferioridade tipicamente brasileiro? Onde entra as outras neuroses e desvios psicológicos coletivos deste povo varonil? Onde entra a realidade extremamente confusa de nossa violência cotidiana? Será que o PM aborda certas pessoas olhando-se no espelho social do qual o próprio PM e o suposto suspeito pertencem? O buraco é mais em baixo.

São Paulo teve um projeto de plantio de um milhão de árvores quando Wener Zulauf foi Secretário de Meio Ambiente, administração Maluf. Praticamente todas as árvores plantadas acabaram quebradas, partidas ao meio por uma população que se mostrou enfurecida contra as pequenas e indefesas árvores. Ok, foram plantadas mudas muito novas, pequenas, mesmo assim a selvageria foi indescritível, nauseante. (Aliás continua sendo, vide nosso verde dos canteiros centrais de avenidas perdendo espaço para as ciclovias.)
Talvez justifique o fato da migração em massa de uma população pobre que vinha do campo, do mato, como dizíamos. Simples assim? Talvez. No campo a vida era miserável, o trabalho duríssimo, a fome, as doenças, a falta de perspectiva. Os que chegaram nas cidades fugiam da eterna pobreza ou, pior, miséria . É natural que as velhas lembranças gerem uma raiva contra qualquer coisa verde. Dai ainda hoje termos bairros de periferia e mesmo cidades inteiras sem a sobra de uma árvore sequer. É tudo cimentado, o símbolo do futuro, da riqueza, da mudança de vida. E cheio de carros, avenidas, entulho, lixo, poças d’água...

Educação, esta é a palavra mágica que voa pelos ares como uma abelha zunindo nos ouvidos de todos. Educação soa como mel. Mas será esta uma solução como de um conto de fadas? E colmeia, flores, águas, chuvas, umidade, ventos, pássaros, insetos, pedras, fungos... Aviso aos navegantes: abelha é bicho que mais mata humanos. Como a maioria não sabe lidar com as abelhas tem medo e acaba provocando ataques ferozes. O mel da abelha é resultado de apicultores e não de ideólogos de plantão.
Ensinar o que? A verdade passageira dos vencedores e mais articulados? Siga este caminho e a educação um desastre - novamente. 

Brasileiros, somos todos autistas. A nossa transformação depende da mudança de paradigmas
imbecis, toscos, primários, suicidas. Paremos com esta estupidez do jogo de culpas. Todos nós precisamos ser treinados para encaixar o cubo no buraco quadrado, a pirâmide no triângulo, a bola no círculo... Ainda não temos condição de receber a informação do que é um cubo, triângulo ou bola. É muito para a cabeça de brasileiro.

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