sábado, 6 de junho de 2015

Ciclos da vida

Vir aqui para Nantes e estar no Velo City foi uma experiência muito estranha. Não tenho mais quase nada a ver com toda esta coisa da bicicleta. Ficaram ótimos amigos e uma geração que me deixa esperançoso. Meu tempo se foi, como é natural para todos. A maioria de vocês provavelmente não consegue colocar o dedão do pé na boca, o que qualquer bebe faz brincando. No geral as coisas melhoram, mesmo que você fique mais velho, enrugado, lento e peidorento!
Vim para cá por que quis o destino. Por pura brincadeira fiz a inscrição de ideias que venho juntando a tempo na última hora do último dia. Sabia do Velo City pelo Eric Ferreira que havia me pedido minha colaboração num trabalho genial que ele estava inscrevendo. A minha palestra "Qualidade e Equidade", que na criação do abstrato obrigatório foi levemente modificada pelo Eric para "Redes Sociais, Qualidade e Equidade" emplacou. O trabalho do Eric, "Velocidade efetiva", não. Depois entrou, depois saiu, depois entrou e finalmente aqui, na hora H não foi apresentado. Uma confusão só. Não muito diferente do que aconteceu com o meu.
Enfim, quis o destino que minha despedida do ativismo pela bicicleta, dessa vez uma chique e internacional, fosse aqui no Velo City. E me despedi em grande estilo: ninguém entendeu porra nenhuma de minha palestra. Pela cara das pessoas já havia percebido que minha fala estava um pouco fora da curva. Fica a esperança que tenha ficado algum petardo em alguma cabeça que lá estava, o que para mim já é bom negócio.
Tive que trocar de moradia e quando voltei estavam desmontando tudo no Velo City. O alívio que senti quando entrei no centro de convenções e vi aquilo já quase vazio foi muito grande. No final de contas, acho que alguma coisa valeu destes mais de 30 anos de trabalho. 
Amanha vou pedalar no Vale do Loire. Hoje comprei uma bicicleta muito simples e barata e só me dei conta que ela lembra demais minha primeira bicicleta quando estava fazendo os últimos ajustes. Fiquei lembrando de como, na garagem escura do meu prédio, apanhei para regular a minha primeira bicicleta, que hoje sei que era quase impossível regular. Aquela era branca e amarela, como a luz, um ponto de referência; esta é preta, cor do vazio, do recomeço. Amanha saio na porra louca, sem ter nada programado, exatamente como saia quando era jovem.
Dentro de uns dias volto a São Paulo e para a arte. Ou para um trabalho qualquer. Nâo vou deixar de fazer arte, seja lá o que signifique isto. Na fila da leitura estão livros sobre a história do transporte na Itália e França, e outros, mais preciosos, sobre a história das mulheres e das bruxas. Foram elas que de fato mudaram nossa cabeça, pode estar certo. A história é sempre dos vencedores, mas nem sempre a verdadeira. E, como dizia dona Lollia (minha mãe): O tempo diz tudo a todos.

2 comentários:

  1. Sinto um desabafo, mas não me parece q existe uma nostalgia . Foi uma despedida parcial, pq a bicicleta sempre esteve e sempre estará c vc. Ela faz parte de vc .
    "Toda arte é experimental. Ou não é arte ". Youngblood
    Experimente novos caminhos, materiais, busque, teste, se envolva e deixe se envolver, amplie a sua visão do q é arte . Mergulhe .Vc vai conseguir, só precisa começar. Boa sorte !!!!!!

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  2. Só percebi hj, q vc está se sentindo leve, livre e solto. Uma criança. Feliz, por ter feito a sua parte e feliz pela continuidade q está sendo dada. Parabéns, vc é um vitorioso. Virou a pagina e está pronto para recomeçar .

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