domingo, 31 de agosto de 2014

O preço da improvisação (nas ciclovias)

31 de Agosto de 2014
O Estado de São Paulo
São Paulo reclama
sobre: O preço da improvisação
Notas & informações / A3 / Domingo, 31 de Agosto de 2014
Bicicleta está na moda e pedalar tornou-se chique, revolucionário, seja lá o que signifique isto. Fora a moda e o revolucionário, o número de ciclistas nas ruas já está para lá de sensível e não para de crescer e, tardiamente, é necessário melhorar a condição de uso e segurança da bicicleta como modo de transporte. É lógico que este é bom momento para oportunistas. Está ai o ponto de partida da coisa toda atabalhoada.
O que se pode falar se os brasileiros perderam a noção do que é uma cidade, do que é a vida em comum, o que é espaço público, o que é uso coletivo? Vivemos o salve-se quem puder. Como fazer entender que ou todos têm segurança ou ninguém tem segurança efetiva? Esta é a base da segurança efetiva. Ainda não percebemos que medidas unilaterais têm resultados minimente duvidosos? O ciclista quer a sua parte, é lógico. Mas como convencer que ciclovias podem causar (e causam) acidentes de toda espécie?
E ai entra o capacete. Capacete dá segurança? Quem quer a resposta que leia a farta documentação científica existente; ou divirta-se com a jocosa carta que a European Cyclists’ Federation divulgou quando o Governo Espanhol pensou em obrigar o uso do capacete; ou o que diz o governo da França; ou...; ou...; ou... Divirtam-se. Emplacar? Por que não se investigou antes de escrever a respeito? Como foram as experiências anteriores? Porque não deram certo?
Fala-se muita besteira. Faz-se muita besteira. Infelizmente a insensatez corre cada dia mais solta e desvairada na questão da segurança no trânsito, e não só da bicicleta, de todos. É claro que é necessário agir. Num país muito pouco afeito a planejamento o que fazer: tocar em frente da forma que der ou tentar planejar para depois tentar fazer?
Eu faria diferente, mas quem sou eu? O que adianta falar?


quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O que eles têm contra a bicicleta?

Acredito mesmo que poucos tem aversão pela bicicleta. A maioria não sabe o que é e como lidar, principalmente técnicos. A formação e prática deles é com veículos motorizados. É preciso entender que mesmo na área onde eles dominam há problemas gravíssimos por todos lados: falta de dinheiro para fazer a coisa correta; pressão da sociedade para ter fluidez no trânsito; precariedade técnica tanto por conhecimento como por falta de equipamento; manutenção precária; erros de execução de projetos...; desrespeito da população em leis que são as mais simples e racionais possível; polícia técnica que não investiga; legistas a menos e sem nenhuma condição de trabalho; justiça precária...
Mais ainda; você e todos aqui somos ciclistas ou gostamos da bicicleta. Nosso olhar é o da bicicleta. A maioria, se não totalidade deles, administradores, políticos, técnicos e agentes, são motoristas, motociclistas ou usuários de transporte motorizado, e é claro que a visão deles seja focada no motorizado. Não é normal?
E mais: as leis civis e criminais, o CTB, leis de responsabilidade..., do funcionalismo público...
Não esquecer algo que detona os potenciais do Brasil: CORPORATIVISMO!!! Tem muita gente que ajudaria a questão da bicicleta, dos pedestres, dos deficientes, mas tem que jogar o jogo da empresa ou serviço público por que tem crianças em casa. Esta foi a principal razão para que algumas pessoas decisivas que conheci tenham sacaneado a bicicleta. Não podiam pensar em perder o emprego. Simples assim.
 
Mesmo dentro da coisa da bicicleta tem muita gente que joga o seu próprio jogo, defende seus próprios interesses, mesmo que estes sejam simplesmente aceitar algumas coisa calado para não perder os amigos.
 
Somos todos humanos. Só ver o defeito do outro é improdutivo. E ai? O que acontece de fato para que ele faça as coisas da forma que faz?

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Prefeitura de São Paulo e a relação do poder público com os ciclistas nas eleições

Como foi citado em uma troca de mensagem a relação da Prefeitura de São Paulo com os ciclistas é importante fazer um esclarecimento sobre a história dos ciclistas em São Paulo:
A bicicleta é oficializada pela Prefeitura do Município de São Paulo pela primeira vez em um órgão específico no administração Paulo Maluf, a pedido de Werner Zulauf, Secretário de Verde e Meio Ambiente, que designa Gunter Bantel como coordenador do “Projeto Ciclista”. Trabalhavam com ele Luís Fernando Calandriello e Ana Maria Hoffmann, e outras pessoas que, me perdoem, não me lembro quem. Ouvia-se que Maluf não se preocupava (?!?) com bicicleta. O número de ativistas pró bicicleta era muito pequeno. As portas da SVMA sempre estiveram abertas. fizeram alguma pouca coisa e não andou mais por que a CET e Secretaria dos Transportes não permitiram.
Prefeitura com Celso Pitta: igual ao tempo Maluf: O número de ativistas pró bicicleta era muito pequeno. As portas da SVMA sempre estiveram abertas. Foi realizado muito pouco, a bicicleta continuou na mídia, mas não andou mais por que a CET e Secretaria dos Transportes não permitiram.
Prefeitura com Marta Suplici (e Tato Secretário): A pauta foi outra e praticamente nada se fez pela bicicleta. Quase esquecem da bicicleta no Plano Diretor, mesmo com Sérgio Luís Bianco, PT de carteirinha no bolso e uma das assinaturas do Programa de Governo de Marta, tentando abrir portas. O número de ativistas pró bicicleta era muito pequeno.  
Prefeitura com José Serra: Já nos primeiros dias é instituído o grupo interinstitucional para trabalhar o projeto conhecido como GEF / Banco Mundial, que pretendia colocar projetos piloto de bicicleta como modo de transporte e instrumento ambiental em locais de demanda já existente e população de baixa renda. Foi a primeira vez na história que várias secretarias, órgãos e sociedade civil sentavam a mesa para trabalhar pela bicicleta. SVMA, Secretaria de Transportes, Secretaria de Obras, Gabinete da Prefeitura de São Paulo, SP Trans, CET, CPTM, Metrô; mais ANTP, ONG Bike Brasil, ITDP, Escola de Bicicleta, Sérgio Luís Bianco, e quem mais quisesse participar das reuniões. Casa aberta. Foi um maravilhoso trabalho que não teve bom termino por conta de problemas burocráticos daqui, Brasil. Tivemos apresentações de consultores internacionais e outros eventos. Fora isto devesse reconhecer o trabalho de Walter Feldman e Eduardo Jorge, (além da Stela Goldenstein, gabinete), que empurram o que puderam a bicicleta. Não andou por conta da CET, ainda restritiva às bicicletas e aos problemas dos pedestres. Faço questão de dizer que dentro da CET a bicicleta teve muitos inimigos, mais ainda os desconfiados, e “amigos” que não foram assim tão amigos da bicicleta; e funcionários que não estavam ligados diretamente a questão da bicicleta, que por razões internas não puderam mostrar a cara (e ainda não podem) e foram realmente amigos da bicicleta. Outro ponto: A CET é quem tem a responsabilidade legal sobre o trânsito e é de lá que deve sair a assinatura de responsabilidade técnica sobre qualquer projeto (lei federal).
O número de ciclistas atuantes nesta época cresceu, mas ainda era muito pequeno.
Prefeitura com Kassab: enquanto o Secretariado (dois anos) foi o do Serra, que havia sido eleito Governador, a coisa foi relativamente bem. Quando o Kassab realmente assumiu a questão da bicicleta acabou restrita a Ciclo Faixa de Domingo. CET continuou emperrada. 
Surge a Bicicletada e começa aparecer uma garotada nova nas reuniões, mas a recepção na prefeitura de Kassab não é a mesma. Ele só mantém a bicicleta na pauta por que o marketing político assim diz.
A Secretaria de Transportes Metropolitanos (secretário Portella), do Governo do Estado, Serra, começou a fazer os bicicletários da CPTM, uns poucos do Metrô, e as ciclovias da Radial Leste e do rio Pinheiros.
Prefeitura atual, Haddad: os grupos de ciclistas estão muito maiores, organizados e maduros, o que facilita muito. A questão da bicicleta está muito mais encaminhada do que antes dentro das secretarias da própria Prefeitura. A CET,, como um todo, aceita com mais facilidade a questão da bicicleta. A sociedade está mais preparada para a bicicleta. Tem muito mais ciclista circulando nas ruas em dias de semana. Enfim, a coisa está muito mais fácil de acontecer.
E o diálogo, em tempos de eleição, sempre é regado a cafezinho passado na hora. Lembrando que o Estado de São Paulo é bem interessante – eleitoralmente. Vamos ver depois.
São muito poucos os que realmente gostam da bicicleta. A maioria sabe que a bicicleta está na moda e que vale uma aposta política nela. Tem gente que a pouquíssimo tempo disse NÃO para os ciclistas e agora está pedalando. Tem gente que historicamente sacaneou com pedestres, pessoas com deficiência, ciclistas e outros alternativos,... e agora vai pedalar, diz que gosta de ciclista, bicicleta? OPS?!
Minha preocupação está no ser inocente útil. Muitos de vocês vão de boa fé e entusiasmo, sem levar em consideração o passado. Posso dizer que o passado não mente. O tempo diz tudo a todos.
abraços
Arturo Alcorta

Bicicleta, ecologia, socialismo e capitalismo

Cada um tem suas razões quando opta pela bicicleta. Comigo não foi diferente. Quando voltei a pedalar (1977), depois de uns cinco anos parado por conta do roubo de minha bicicleta, a razão era o puro e simples prazer, expresso na liberdade de ver a paisagem e sentir a vida na pele. E pegar pão quente na padaria, o pão italiano maravilhoso dos amigos José e Napolitano, donos da Padaria Vesúvio na rua dos Pinheiros que infelizmente não existe mais. Saía um pouco antes do almoço e do jantar e só quando voltava eu, minha mãe, meus irmão e irmã, sentávamos à mesa, faca e manteiga à mão. Ia quase um filão por refeição... e nunca mais deixei a bicicleta.
Um pouco antes do meu retorno definitivo à bicicleta eu andei tentando ajudar os ecologistas. Até hoje fico feliz por ter ajudado na proibição de pesca da baleia. Mas descobri que não tinha estômago para ficar ali, no meio dos ecologistas, quando fui a uma reunião onde apresentaram filmes de matadouros de bovinos, que seria nossa próxima luta. Na primeira cena de marretada eu me levantei e fui embora nauseado. Consigo ver gente morrer, mas ver a natureza ser brutalizada vai muito além de minha capacidade. 
E a partir dai as cores do pedalar mudaram completamente e ganharam outras razões. Eu já tinha uma boa dose de leitura sobre o impacto da bicicleta na questão ecológica, urbana e social, e nesta leitura encontrei a saída para dar continuidade às minhas crenças. Sim, crenças.
A grande vantagem de ir para a bicicleta, que então era uma área quase virgem, foi não ter que lidar com um pessoal que até tinha boas intensões e muita razão, mas era ortodoxo, fanático, duro, os famosos “ecochatos”. Na época não havia o fascismo do politicamente correto, o pior de todos, e capitalistas, esquerdistas, e os mais diversos grupos ortodoxos eram bem mais inteligentes e humorados do que são hoje. Retiro dai os Libelu (Liberdade e Luta), que eram muito chatos, intragáveis, por que não dizer os genitores do politicamente correto dos dias de hoje. A sociedade dos anos 80, por mais diversa que fosse, tinha senso de coletivo, o que é difícil de encontrar hoje neste oceano revolto de individualidades puritanas, propriamente sereias.
A falta de compreensão com quem optou pela bicicleta foi grande, maior que se possa imaginar, mas valeu a pena. Hoje olhamos para trás, os pedalantes daquela época, e nos divertimos com o passado. Dever cumprido.
Mas, nestes mais de 30 anos, a maturidade foi chegando, com leitura os pensamentos ficando mais claros, lógicos e sensatos. Fruto também da autocrítica. Bendita autocrítica!
Exemplos:
·         a bicicleta só voltou a ser popular quando o mercado americano, na década de 80, começou a produzir bicicletas sob o mesmo parâmetro dos automóveis; ou seja, com alta qualidade e status. A partir dai a bicicleta como coisa de pobre foi esquecida, o que resultou no boom mundial de ciclistas dos dias de hoje
·         o fenômeno mountain bike levou os ciclistas a questionar a vida e o meio ambiente de várias cidades dos Estados Unidos, principalmente na Califórnia
·         na Europa a bicicleta já era muito usada em países de alto PIB, que tinham políticas sociais sérias e sustentáveis, todas baseadas numa boa economia capitalista
·         não me lembro de ter lido uma linha sobre o uso intensivo da bicicleta nos países do bloco comunista. Aliás, quando caiu o muro de Berlim o que se viu foi uma invasão de Trabants, o simpático e poluente carrinho (pelo qual tenho paixão), mas nenhuma bicicleta
·         antes da Revolução Comunista a bicicleta, por questões de cultura e tradição, era odiada na China e Mao enfiou goela abaixo do povo
·         aqui no Brasil o PT, Partido dos Trabalhadores, nunca levantou uma bandeira a favor dos trabalhadores que enchiam as fábricas do ABC de bicicletas. Agora, passadas três décadas, oportunamente o faz. Aliás, nem PT, nem PDT, nem PTB, os ditos partidos representantes dos trabalhadores, pobres e oprimidos.
Tenho certeza que a bicicleta é uma revolução sensata. É um instrumento de desenvolvimento social quando permite ao seu usuário se transportar com um baixíssimo custo. Vide as mulheres paupérrimas africanas agraciadas pelo projeto Bike Africa. Pedalando viramos ser ecológico, ambiental, civilizado, coletivo.

Recomendo a leitura de:
Revista Exame; edição 1067 - ano 48 / nº11- 11/6/2014
Por que o capitalismo é tão injusto?:
Um plano B para as empresas:

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Um menino de caráter

Juca Kfouri

21/08/2014 15:06 
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Guilherme Murray tem 12 anos e está disputando o Campeonato Panamericano de Esgrima pelo Brasil, em Aruba, no Caribe, numa categoria, espada, dois anos acima de sua idade.
Hoje ele foi eliminado nas oitavas de final.
Perdeu de 10 a 9.
Mas só porque quis.
Ele ganharia o jogo.
O árbitro deu o toque em favor dele.
O Guiga foi ao árbitro e disse que havia um engano, que ele não havia tocado o adversário.
O árbitro tirou-lhe o ponto.
O menino deixou as pessoas impressionadas com seu espírito olímpico.
Um garoto, no meio dos grandes , que poderia estar entre os oito melhores da América, vai ao árbitro, comunica o erro e é eliminado da prova por sua atitude, ao recusar um ponto que não era dele.
Também fruto dos ensinamentos de ética no esporte que os Mestres Régis Trois, Ricardo Ferazzi e Carla Evangelisti professam na sala de esgrima do Club Athletico Paulistano.
Antes de formarem atletas, se preocupam em formar pessoas de caráter.
Hoje Guilherme Murray, campeão brasileiro, sul-americano, e de tantos outros torneios nacionais e internacionais, saiu de Aruba mais campeão do que nunca.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Comunicação de ciclista para ciclista

Logo a frente vai rodando o garoto na sua BMX. Ele baixa o pedal e deixa a pequena bicicleta com o selim lá em baixo deslizar com sua perna esticada e a outra perna cruzada, com uma leve garça. Um pouco a frente troca de perna e volta ser uma garça, e assim por diante, na dança típica do pessoal do BMX. Desliza rápido. A BMX é de primeira, pró, numa pintura alaranjada quase fluorescente. Eu vou me aproximando aos poucos admirado com a dança ritmada da pedalada e vejo comprazer e inveja ele dar um bob no meio fio e a água da chuva parada. Garça! Mesmo grudado nele não ouço o tocar da roda no chão.
Tomo um educado cuidado para ultrapassa-lo, abaixo a cabeça como saudação e também reverência, e sigo na minha cadência, com uma pitada de inveja de seu estilo. Vindo de frente na ciclovia um ciclista que de longe fica claro que está bêbado. Paro de pedalar por um momento e faço uma discreta sinalização com a mão direita com absoluta certeza que o BMX entenderá, o que realmente acontece. Pedalar com quem sabe é uma outra história. Diminuo mais um pouco a velocidade pedalando mais leve e toco a campainha para chamar a atenção do bêbado que se aproxima em uma linha incerta e gesticulando com a mão. Quando o bêbado está bem próximo levo minha bicicleta um pouco para o centro da ciclovia de forma a proteger o BMX. O bêbado passa por mim, olho para trás e ele passa sem problemas pelo BMX. Seguimos em frente com o BMX me seguindo em silêncio de perto. Vou desviando das poças de água deixadas pela chuva. Numa das esquinas diminuo a velocidade na frente de um carro para proteger o BMX e ele me ultrapassa e retribuiu a ação na próxima esquina. E assim fomos pelos 3 km da ciclovia. Não trocamos uma palavra, nem é necessário, só seguimos. Quando viro à esquerda ele passa por mim e disse simplesmente "Boa noite". 
Anteontem na ciclovia da Faria Lima uma menina, linda por sinal, quase arranca a camisa de um pedestre num trecho que ainda é só calçada para em seguida passar a mil raspando no braço de uma criança bem pequena que se segurava desajeitada na mão da mãe. A ciclista sequer diminuiu a velocidade, não sinalizou a aproximação, não pediu desculpas, seguindo em frente como se estivesse numa competição. Para que? Estava fugindo de mim? Ou era mais uma que vê as ciclovias um bom local para treinar? Não sei o que passa pela cabeça deste pessoal, mas tenho a clara sensação de que estão fazendo racha. Tão parecido com os boyzinhos...
Fazendo jus à verdade, esta insanidade não é uma exclusividade paulistana e muito menos brasileira. Munique é uma delícia de se pedalar... fora do horário de pico de final de dia. Ai cada parada em sinal vira largada de prova de curta distância. Acontece igual em outras cidades grandes da Europa. Londres é a pior. Confesso que não quero pedalar nas ciclovias do Tâmisa, até talvez por que tenha medo. Só vendo a velocidade que eles passam e o grau de agressividade de boa parte deles. O pior de tudo é que muitos destes enlouquecidos, aqui, ali, lá e onde mais seja, acham que sabem pedalar, e ai é que mora o perigo. São extremamente individualistas, o oposto do ser ciclista.
Como é raro quem consegue entender o que é uma bicicleta e mais raro ainda os que rezam pelos dogmas do pedalar bem, tenho sentido muita saudade do tempo que eu pedalava no meio dos carros. Era muito mais seguro. Experiências como a pedalada com o garoto do BMX estão se tornado joias perdidas na cidade.

Ciclismo é a arte da suavidade!

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Brasil, a década perdida - trabalho

Fica aqui minha recomendação para se se dê uma olhada com cuidado neste trabalho de Vinicius Carrasco†, João M. P. de Mello§, Isabela Duarte† sobre a A Década Perdida: 2003 – 2012 (no Brasil). Se quiser simplificar a leitura, abra o link, clique dentro do texto, e tecle Ctrl + End e vá para fim do longo e ótimo texto. Vá rolando as páginas até chegar nos gráficos comparativos. E ai tire suas conclusões sobre o país do nunca antes. É 
Vinicius Carrasco†, João M. P. de Mello§, Isabela Duarte† 
A Década Perdida: 2003 – 2012
PUC Rio
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
www.econ.puc-rio.br

Do texto se pode concluir é que o ambiente futuro para a bicicleta no Brasil é muito promissor. Mais promissor ainda quando se vê a qualidade da Carta Compromisso aos Presidenciáveis criada por esta nova geração de ciclistas e distribuída pela UCB, União dos Ciclistas do Brasil, que será enviada a todos candidatos à Presidência da República. Cenário, atores e público, tudo pronto para a construção de uma cidade melhor para todos, contanto que todos consigam distinguir objetivo de ideologia, ou seja, construção de inocência útil. 

Infelizmente perdemos o Eduardo Campos, uma liderança política nova e muito interessante. 

sábado, 9 de agosto de 2014

Haddad encomenda estudo sobre os benefícios de ciclovias e ciclofaixas (?)

para
São Paulo reclama;
O Estado de São Paulo

Sobre:
Haddad encomenda estudo sobre os benefícios de ciclovias e ciclofaixas.
E6| Metrópole | Sábado, 9 de Agosto de 2014

A melhoria da segurança, conforto e prazer dos ciclistas se faz com um sistema cicloviário, ou seja, ciclovias, ciclofaixas, transito partilhado, paraciclos, bicicletários, sinalização, educação...; e não só ciclovias e ciclofaixas. Por lei, CTB, estas intervenções obrigatoriamente devem ser pintadas de vermelho, o que chama muito a atenção de todos transeuntes. Provavelmente Haddad sabe que Kassab tinha na questão da bicicleta seu segundo índice de aprovação. O perigo é implantar só ciclovias e ciclofaixas sem educar, principalmente os ciclistas, sinalizar, preparar o resto do trânsito para a novidade, que pode aumentar, e muito, o número de pedestres atropelados por ciclistas, dentre outros problemas.

Diminuição da velocidade do trânsito é medida fraca para a comunicação política, até por que não necessita de emporcalhar de vermelho a cidade, mas tem efeitos muito melhores para a segurança de pedestres, ciclistas, motociclistas e motoristas, além de diminuir as emissões de gases dos veículos. A equipe que está assessorando Haddad na questão das bicicletas é respeitável e já deve ter falado sobre redução de velocidade e acalmamento de trânsito (traffic calming).

Qualquer estudo que apresente números é bem vindo, mas um estudo sobre os benefícios de ciclovias e ciclofaixas talvez não seja assim tão necessário já que a quantidade de estudos similares realizados em várias partes do mundo prova repetidamente e sempre com números muito parecidos, sem deixar qualquer dúvida, a transformação para o bem que vem incluída no uso da bicicleta. Basta procurar na Internet onde se encontrará farta documentação científica. Há formas melhores de aplicar o dinheiro, até terminando ciclovias e ciclofaixas que já funcionam e ainda não estão sinalizadas.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

hoje

Dá para confiar no futuro de um país que até um senhor bem vestido e educado fica vendo mensagens de celular no meio da sessão de cinema? Virou um esculhambo completo.

São Paulo dá Pedal e hoje

Fiquei aqui pensando como poderia explicar quais as diferenças entre o Projeto de Viabilização de Bicicletas como Modo de Transporte, Lazer, Esporte e Turismo, de 1982, e o que se está fazendo hoje em dia. Nesta de ficar pensando acabou caindo a fixa que é muito possível que os órgãos competentes, em especial a CET, nunca tenham entendido corretamente sobre o que se tratava. Tenho certeza que houve um vazio de comunicação, tanto por que a bicicleta era coisa estranha para eles, uma espécie de disco voador aterrissando nas ruas paulistanas; como pelo fato de que o que se propunha era então uma grande novidade, uma mudança de conceitos. Não tinha nada de especial, beirava o óbvio. Pretendíamos usar a experiência de ciclistas comuns, incluindo mulheres, usuários da bicicleta, para implantar uma rede cicloviária de caminhos alternativos às vias de trânsito saturado ou perigoso, que percorresse os trajetos com topografia menos acidentada. Pretendia-se que o ciclista circulasse dentro de ilhas de tranquilidade formadas nos internos de bairros, e que fizesse o cruzamento das vias de trânsito pesado em pontos de menor risco. A princípio seria uma rede de 255 km tendo como base o Centro Expandido de São Paulo, mais rotas até Santo Amaro na Zona Sul e até a Pena, na Zona Leste. Esta era uma das etapas a ser vencida, a mais palpável para os ciclistas e cidadãos comuns, já o Projeto de Viabilização de Bicicletas tinha um olhar abrangente sobre a bicicleta, apontando transformações necessárias na indústria, bicicletarias, educação, políticas públicas, leis, impostos....
A preocupação básica era o respeito pelo então existente, e fazer com que o resultado final levasse a toda cidade e seus cidadãos uma melhora na qualidade de vida. O Projeto de Viabilização não é um projeto de ciclistas apaixonados só para ciclistas.

São Paulo dá Pedal, proposta apresentada e aceita pelo concurso São Paulo 450 anos de 2004, seguia os mesmos passos do Projeto de Viabilização, mas com dois projetos pilotos de baixo custo, fácil e rápida implantação.
A grande diferença, principalmente do São Paulo dá Pedal, para o que está sendo feito ou proposto hoje era a formação da equipe que assinava o projeto. Para começar, dois vinham de famílias com passado ligado ao automobilismo e à sua indústria. Três eram ciclistas cotidianos, um deles pedalava mesmo tendo uma deficiência física de nascença; o segundo era um ciclista comum, mas fora o responsável pela introdução de uma das marcas de bicicleta mais importantes (Specialized) do mundo, e o terceiro pedalou quase toda a vida, para transporte, lazer, cicloturismo e competição, além de ter uma boa prática em ensinar pessoas a pedalar do zero e no trânsito. Três eram técnicos vindos da CET e outros órgãos de trânsito e rodoviários. Todos eram pedestres. Duas mulheres, quatro homens, três pais de família; um professor secundário, dois engenheiros, dois arquitetos, quatro funcionários públicos, um empresário e especialista em vendas, marketing e logística. O São Paulo dá Pedal tinha um grau de experiência notável, que fechava praticamente todos os pontos relativos à questão da do sistema cicloviário, da bicicleta, do ciclista, da qualidade da bicicleta, da educação, das leis, do uso do espaço público, do direito dos outros: pedestres, motociclistas, motoristas, pessoas com deficiência, das crianças, mulheres, idosos, da propaganda, do financeiro, cronograma de evolução, variáveis... Hoje fala-se em só sistema cicloviário. Além do pessoal que assinava a proposta havia uma equipe de colaboradores por trás que optaram por não assinar, mas que estiveram ligados ao processo, a maioria primeiro escalão do setor público e privado. Como curiosidade, dois destes colaboradores fizeram cálculos de econometria para dimensionar o número real de ciclistas circulando em São Paulo em 2005 e ver como seria a curva de crescimento do uso da bicicleta, cálculos estes que se provaram corretos. Ao todo éramos mais de 15 pessoas, todas de primeira linha. Deve se render agradecimento a alguns funcionários públicos que ajudaram muito o projeto fornecendo dados e informações que deveriam ser públicas, mas não eram. Para se ter ideia do esconde-esconde de então, não nos foi dado acesso aos mapas oficiais da cidade e a apresentação do São Paulo dá Pedal foi feita com um mapa desenhado a mão.
No São Paulo dá Pedal havia um cronograma de etapas, de forma a que todos envolvidos, técnicos, funcionários públicos, agentes de trânsito, polícias e população, fossem treinados e se adaptassem na nova situação. A primeira etapa seria o entorno do Ibirapuera, seguindo para o Centro – Zona Norte, pilotos para as sequentes implantações no resto da cidade.
O projeto Ibirapuera abrangia o Parque Ibirapuera, Vila Nova Conceição e Jardim Luzitânia, trabalhando todas ruas no interno dos bairros, todas as entradas e saídas do Parque do Ibirapuera, mais todos os caminhos alternativos e seguros para se chegar ao parque. O do Centro – Zona Norte abrangia todo Centro, o entorno do eixo da av. Tiradentes, cruzava a Ponte das Bandeiras e do outro lado do rio abrangia Parque Anhambi, entorno do Campo de Marte, Shopping Center Norte, Center Norte e Carandiru, hoje Parque da Juventude.
Em tudo estava incluído mapeamentos, sinalização vertical e horizontal, totens, para-ciclos, bicicletários, orientadores ciclistas (o que hoje se conhece como “bike anjo”), material educativo em todas formas e mídias, site, propaganda, criação de um padrão de comunicação, treinamento em todas bicicletarias, lazer, esporte, cicloturismo urbano, melhorias para pedestres, paisagismo, meio ambiente...


Um pouco depois ainda se fez uma tentativa de viabilizar estas ideias com o Ciclo Rede Butantã, e seus 100 km de sistema cicloviário de alimentação das ciclovias Eliseu e Paraisópolis. Mesmo tendo uma forte entidade internacional por trás o projeto não só morreu, como desapareceu. Puft!

São Paulo dá Pedal: Arturo Alcorta; Luiz Dranger; Sérgio Luís Bianco; Fernando Gutieres; Úrsula Miranda; Eliana Haberli. 

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Hierarquia

Faz alguns dias ensinei a pedalar um jovem de 11 anos. Foi das experiências mais marcantes. A mãe telefonou, contou que ele iria para um camping em poucos dias onde provavelmente todos garotos pedalariam, que ele havia tentado, mas sem sucesso. O jovem chegou para a primeira aula acompanhado da irmã um pouco mais velha e uma senhora, uma situação normalmente constrangedora para a idade. Com jeito tímido não demorou muito a soltar-se e posicionar-se no contexto de aprendiz. Fato também notável foi sua objetividade expressa num português formal, impecável, claro e firme. Zero gíria; zero palavrão, zero rebuscamento, manha ou qualquer tipo de subterfúgio. Uma objetividade difícil até em adultos. As aulas se seguiram até um dia antes da partida para o camping, já pedalando, mas ainda sem prática, o que só a rodagem lhe dará.
A cada aula eu voltava para casa perplexo com o jovem, me remetendo ao que fui na juventude e principalmente pensando na sociedade que temos hoje no Brasil. A cada espanto com as reações tranquilas e pensadas do jovem me perguntava como seria a educação que ele recebe em casa e porque todos jovens não podem ser educados com o mesmo bom senso.

O que me passa pela cabeça é que seja uma questão de hierarquia. Há um velho ditado que diz ‘a hierarquia forma o caráter’. É bem verdade, hierarquia sempre funcionou, deu certo através da história, transformou o bicho homem ereto e ser humano e civilizado. A base da educação é o conhecimento, que só se tem através da hierarquia. O Brasil do passado, pelo menos o que conheci, tinha um grande respeito pela hierarquia, o que podia ser comprovado pelo ficar quieto para poder ouvir e aprender e assim ganhar sabedoria. Hoje estamos sendo instigados a olhar nossos próprios umbigos. Cada um olha o seu e acha lindo! Dai cai da bicicleta (antigamente dizia-se ‘cair do cavalo’) e não sabe por que.