sábado, 11 de maio de 2013

Quanto é a bicicleta socialmente correta?

Um artigo dos Los Angeles Times publicado no O Estado de São Paulo, assinado por Richard Greenwald & Michael Hirsch com tradução de Tereza Murtinho, sob o título de “A morte pela camisa que estamos usando”, traz um bom paralelo para uma situação vivida pelo setor produtivo da bicicleta e a responsabilidade social de seus consumidores.

Diz o artigo em seu subtítulo “Mais do que a corrupção e as deficiências dos códigos de edificações, a exigência de custo baixo é a culpada pela tragédia em Bangladesh”. Segue o texto “A morte de mais de 800 (já são mais de 1000) operários de uma fábrica de confecção instalada no Rana Plaza, em Bangladesh, que desabou no dia 24 (de Abril), é uma tragédia que coloca em foco os problemas generalizados existentes no setor global do vestuário (assim como em vários outros setores econômicos)... Mas no ímpeto de resolver o caso ou ajudar as vítimas nos recusamos a ver os verdadeiros culpados: a indústria global do vestuário e nós mesmos – pois somos cúmplices quando apoiamos ou ignoramos um sistema de comércio e terceirização do trabalho cuja finalidade é contornar regulamentos de todos os tipos, na busca de do lucro máximo em detrimento das pessoas.
De acordo com Juliet Schor, professora de Sociologia do Boston Colege, o custo das roupas em dólares caiu 39% desde 1994.

Temos que nos perguntar até que ponto a nossa demanda por uma camiseta de US$ 5,00 e enormes descontos num jeans não são responsáveis por desastres como estes (de Bangladesh)...
Temos responsabilidade moral de exigir que as roupas de marcas que usamos não sejam costuradas com sangue.

Vale a pena ler o texto completo, publicado na página A12 | Internacional | quinta-feira, 9 de Maio de 2013.
Não é tão difícil ter um mínimo de conhecimento sobre como funciona o processo de fabricação distribuição e comercialização de qualquer produto. Sem este mínimo interesse é impossível corrigir situações sociais injustas.

O problema não é a globalização, mas o acreditar levianamente (para dizer o mínimo) que socialismo, melhor dizendo justiça social, se faz com produtos de preço fantasiosamente acessível. Como diz o ditado “não existe almoço grátis”. Em algum momento a conta será paga e quanto maior a distorção, maior será a conta no futuro. Esperem para ver a merda que dará este irresponsável IPI zero.
Lembro do meu espanto no dia que encontrei em Capela do Alto um câmbio traseiro novo, sem marca, cujo preço era menor que o valor de seu peso convertido em aço bruto. Impossível de fechar a conta. No mercado brasileiro de bicicletas é comum encontrar bicicletas, componentes e peças com preço final ‘estranho’, para não dizer mais.

É lógico que o menor preço sempre é muito bem vindo, mas o bom senso e a responsabilidade social deveriam colocar limites. “De grátis” ou tipo 1,99 provavelmente embutem trabalho próximo ao escravo, provavelmente contravenção, baixa qualidade, defeitos congênitos, rápido descarte e geração de lixo, que é um gravíssimo problema.
Qualidade é responsável. O resto é balela, populismo, sacanagem social. Mais ainda, acreditar que todos tem o direito de ter o que bem entenderem, não importa o custo, é canalhice. Quem vende uma imagem tão simplista deveria ser fuzilado em praça pública com transmissão por rádio, TV e Internet. Decapitado seria melhor.

Ao socialismo se vai de bicicleta? Depende.

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