sexta-feira, 1 de março de 2013

Fórum Mundial da Bicicleta 2013, Porto Alegre, RS

(Minha fala, última mesa do Fórum Mundial da Bicicleta de 2013)
Começo com uma provocação:
Você já leu a bíblia? Deveria. Dependendo da versão, é um fantástico livro. Trata sobre comportamento e organização social. Li, não faz muito tempo, a versão de um missal que foi de minha mãe quando jovem; leitura muito leve e agradável. Pouco depois de ler o missal encontrei a Bíblia que éramos obrigados a ler no colégio de padres que estudava então, uma versão de texto pesado, cheio de preconceitos, o que me fez ter horror pela igreja. Tentei ler o Corão, mas não consegui por que era muito pesado. Talvez tenha outra versão. Já li um resumo do Bhagadav Gita, dificílimo, e algo sobre Budismo. Infelizmente não sei nada sobre o Torá.
Recomendo a leitura do livro “bíblia”, numa versão neutra, simples, como meio de compreensão do que somos. Também é uma história fascinante.


É da condição humana o péssimo hábito de rotular tudo, situações e pessoas. Trazemos a realidade para que esta se encaixe o melhor possível em nossa vida e capacidade de aceitação. Há um componente biológico que traz uma necessidade de ambientar a própria consciência num cenário imaginário no qual se possa sobreviver. Do receio ou medo do que nos cerca surgem mitos, fantasmas, fantasias.
Com o tempo e os fatos da vida amadurecemos e a realidade fica mais lógica, compreensível, menos assustadora. Isto acontece tanto pelas experiências da vida quanto pela desaceleração biológica do próprio funcionamento do corpo. O mesmo acontece com a sociedade.
A melhor e ao mesmo tempo a mais malévola qualidade é nossa imensa capacidade de adaptabilidade, seja para o bom ou ruim. Adaptabilidade muitas vezes leva a aceitação, que exagerada é veneno mortal.
 

O que vi ou ouvi no Fórum Mundial da Bicicleta de Porto Alegre 2013 me deixou... alegre, feliz de verdade. É normal que o movimento pró uso da bicicleta amadureça. E amadureceram. Felizmente o forte viés que colava a esquerda e a questão da bicicleta como uma coisa só está se desfazendo, pelo jeito rapidamente. Num passado não muito distante era feita uma mistureba que na realidade é muito prejudicial aos objetivos dos ciclistas, da bicicleta, da própria sociedade e principalmente de cada um dos ativistas individualmente. Fechava-se as portas ou criava-se restrições para quem pensasse diferente, o que é burrice e perda de tempo. Falava-se em processo democrático com uma leviandade incrível. Ainda há um pouco de distorção, mas parece que se vê o surgimento de um caminho novo, realmente democrático.

Confesso que provoquei o pessoal felizmente sem ouvir ou ver caras. É óbvio que a maioria ainda é muito ligada a ideologias históricas da esquerda, mas agora parece que estão dispostos a ouvir. Deu a impressão que caiu a ficha que bicicleta é uma coisa e ideologia e partido político é outra. Uau! Equilíbrio e justiça social não é criação ou propriedade da esquerda, assim como o movimento de melhoria da qualidade de vida nas cidades não é exclusividade do movimento da bicicleta. Muito menos de qualquer de seus segmentos ou grupos.

Fizemos piadas (politicamente incorretas? coisa horrorosa!) entre amigos e rimos muito. Em alguns momentos o fórum lembrava um AAA (associação de alcoólatras anônimos) ou uma assembleia de deus... Nunca vi tanta bicicleta fixa junta, das boas, o que nos leva a que ser de esquerda numa fixa deve ser mais chique (e caro)...
Infelizmente estava exausto e não acompanhei a bicicletada... ops!, desculpa... a massa crítica... ops! desculpem outra vez... Não, não sei como chamar o passeio. Ops! mais uma vez desculpas; não é passeio... Enfim, a porra que seja, que estava bem bacana e cheia. Também não fui a festa de confraternização, da qual até os mais experientes acharam um tanto estranha (o povo), mas gostaram.
Pelo que soube todo evento foi organizado essencialmente por cinco pessoas, a maioria meninas. Através de arrecadação espontânea pelo site conseguiram cobrir os gastos, o que me deixa muito feliz, feliz mesmo. Em várias oportunidades do passado o evento tão de ‘companheiros’ sobrava feio no rabo do organizador. Eram todos iguais, menos na hora de socializar os custos. Típico. Socialismo é bom com o dinheiro dos outros, diz a piada.
Não posso deixar de elogiar a programação e o público presente, sempre enchendo as salas, algumas com palestras ou falas simultâneas.
 

Aproveitando a oportunidade fizemos um encontro para falar da UCB – União dos Ciclistas do Brasil, que não anda nada bem das pernas. Estou presidente, com restrições, e espero que consigamos resolver as questões e que a UCB tenha futuro promissor.


Passei por Joinville para ver como vão os trabalhos de reabertura do Museu de Bicicletas de Joinville, que ficou fechado nestes dois últimos anos e tanto, numa ação que a administração da prefeitura do PT de então nunca conseguiu explicar bem a razão. Patético e sem sentido. Bom, enfim, dia 9 de Março próximo o MUBI reabre as portas com garantias de bom futuro.

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