quarta-feira, 27 de março de 2013

terror nosso de cada dia

Ótimo trabalho de coleta de notícias feito por Alexandre P. Casado, de Maceio, AL. Os links abaixo, um conto de terror sobre a bicicleta no Brasil, foi enviado numa troca de mensagens dos membros da UCB, União dos Ciclistas do Brasil.

Associe-se a UCB.

Arturo Alcorta
Presidente UCB






Em 27 de março de 2013 10:27, Vinícius Mundim Zucheratto e Figueiredo <viniciusmundimz@gmail.com> escreveu:
Costumo utilizar o Google Alertas para receber indicações sobre temas de interesse. http://www.google.com/alerts?hl=pt-PT
Se for marcar um alerta com Bicicleta e Ciclista, vem noticia de vários acidentes todo dia :(



Bom dia Arturo,
É uma satisfação compartilhar informações com esse grupo. Realmente, temos mais coisas ruins do que boas, mas vamos em frente, acredito que o resultado de todas essas lutas será um futuro mais amigável para a bicicleta. Não teremos direito a esse futuro (está muito distante), mas consola saber que nossos descendentes poderão vivenciá-lo.

Grande abraço,
Alexandre
Maceió/AL
De: Alexandre C
Data: terça-feira, 19 de março de 2013 19:07
Para: associados-ucb@yahoogrupos.com.br
Assunto: Re: [ASS-UCB] Danos causados ao cidadão – responsabilidade do poder público, código de trânsito

Prezados amigos do pedal,
Disponibilizo abaixo algumas decisões favoráveis (e desfavoráveis) em relação a nós ciclistas.
Caso algum advogado resolva pesquisar e possível encontrar a fundamentação das petições e sentenças.


Abraço a todos,
Alexandre.
Maceió/AL


Motorista de ônibus é demitido por justa causa por desrespeito ao Código de Trânsito brasileiro – CTB (20/01/2012)
http://olhonotransito.blogspot.com/2012/01/motorista-de-onibus-e-demitido-por.html

Massa Crítica é alvo de inquérito do MP do Rio Grande do Sul (27/12/2011)http://sul21.com.br/jornal/2011/12/massa-critica-e-alvo-de-inquerito-do-mp-audiencia-e-na-quinta-feira/
Ciclista é condenado a pagar R$ 12 mil por atropelar criança (26/10/2011)
http://www.viaciclo.org.br/portal/noticias/46-noticias/742-ciclista-condenado

Justiça ordena incluir ciclovia na SC 405 (01/05/2011)
http://www.viaciclo.org.br/portal/noticias/46-noticias/709-justica-sc405

Motorista que provocou acidente com morte na Rodosol é condenado por homicídio (04/04/2011)
http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2011/04/a_gazeta/minuto_a_minuto/818862-motorista-que-provocou-acidente-com-morte-na-rodosol-e-condenado-por-homicidio.html

Bancário acusado de atropelar ciclistas é solto depois de obter habeas corpus - 27 dias no presídio (09/04/2011)
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110409/not_imp703956,0.php

Atropelador de ciclistas é denunciado pelo MP do RS (21/03/2011)
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,atropelador-de-ciclistas-e-denunciado-pelo-mp-do-rs,695203,0.htm

Condenado a seis anos em regime semi aberto, acusado de atropelamento poderá recorrer em liberdade (11/02/2010)
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/02/11/cidades,i=172980/CONDENADO+A+SEIS+ANOS+DE+PRISAO+EM+REGIME+SEMIABERTO+O+ACUSADO+PODERA+RECORRER+EM+LIBERDADE.shtml

Detran é condenado em primeira instância a indenizar ciclista por acidente (14/01/2010)
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/01/14/cidades,i=166436/DETRAN+E+CONDENADO+EM+PRIMEIRA+INSTANCIA+A+INDENIZAR+CICLISTA+POR+ACIDENTE.shtml

Município do Rio de Janeiro indeniza ciclista que caiu em buraco (22/07/2009)
http://noticias.bol.uol.com.br/brasil/2009/07/22/ult5772u4716.jhtm

Dano moral e estético para ciclista colhido no acostamento (07/04/2009)
http://www.direito2.com.br/tjsc/2009/abr/7/dano-moral-e-estetico-para-ciclista-colhido-no-acostamento

Justiça indeniza ciclista ferido em lombada não sinalizada (11/03/2009)
http://www.viaciclo.org.br/portal/noticias/46-noticias/247-ferido

Prefeitura de São Carlos/SP indeniza família de ciclista que morreu ao cair em buraco (07/01/2009)
http://www.viaciclo.org.br/portal/noticias/46-noticias/187-prefeitura-indeniza

Empresa de ônibus indeniza família de ciclista (17/12/2008)
http://www.jusbrasil.com.br/noticias/409350/empresa-de-onibus-pagara-r-240-mil-aos-pais-de-jovem-morta-em-acidente-de-transito

Em 16 de março de 2013 21:14, Uirá Lourenço <uiradebelem@yahoo.com.br> escreveu:

Com base no CTB, entendo que daria claramente para responsabilizar o Estado, o órgão de trânsito competente, pelo “acidente” na avenida Paulista, o atropelamento do ciclista David Souza. Para citar o caso mais recente e de grande repercussão.
Com o devido apoio jurídico, vejo grande possibilidade de responsabilização pelos equívocos na política de trânsito, que visa à fluidez motorizada, em detrimento da segurança (“direito do trânsito seguro”, nos termos do código). É interessante notar que o código de trânsito é bem amplo nesse sentido de responsabilização. Não abrange apenas ação e omissão, mas também erro na execução e manutenção de programas.

Artigo 1° do CTB, parágrafo 3°:
“Os órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito respondem, no âmbito das respectivas competências, objetivamente, por danos causados aos cidadãos em virtude de ação, omissão ou erro na execução e manutenção de programas, projetos e serviços que garantam o exercício do direito do trânsito seguro.”

E ainda o parágrafo 5°, do mesmo artigo:
“Os órgãos e entidades de trânsito pertencentes ao Sistema Nacional de Trânsito darão prioridade em suas ações à defesa da vida, nela incluída a preservação da saúde e do meio-ambiente.”


Existiria alguma possibilidade de assistência jurídica e de ação de responsabilização do Estado nesse caso escabroso, pela UCB ou por alguma entidade associada? Espero que o pessoal de Sampa esteja atento para a possibilidade.

Uirá Lourenço
Diretor UCB

segunda-feira, 25 de março de 2013

ECF - European Cyclists' Federation e burrice do capacete

Espanha pretende tornar obrigatório o uso de capacete. Veja a reação da Federação dos Ciclistas Europeus: http://www.ecf.com/news/the-pain-in-spain-helmet-laws-in-the-making/

Como sempre digo nas palestras: "Acreditar em bobagem é o maior perigo". Bobagem mata!

Repetindo pela enésima vez: Segurança real vem de pesquisa, dados, saber interpretar os resultados para chegar aos procedimentos de qualidade ideal para a situação apresentada. Segurança é ciência exata; não é falácia.
Capacete para uso da bicicleta como modo de transporte não funciona como o lobby do capacete vende. Os dados divulgados pelo lobby, e repetidos por fanáticos, normalmente são relativos a competição e não valem para uso urbano. Para mim há má fé.

Não sou contra o capacete, mas sou contra burrice e principalmente gente chata. Quer usar? Usa. É uma ótima proteção contra os raios de sol. Eu deveria usar. Meu primo Ricardo Falzoni, ótimo cirurgião plástico que cuida de minha pele branca (que volta e meia perde um pedaço), pede que eu use capacete como chapéu; o que deveria fazer.

Enfim, "Quem só pensa em perigo não tem tempo para ser seguro".

The Pain in Spain: Revisited

Road safety,
News,
12.03.2013

ECF_Julian

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Spain is proposing some rather nasty legislation, which includes a compulsory helmet law. ECF’s Road Safety Officer, Ceri Woolsgrove, explains why this is bad news.
We spoke last year about Spain looking to implement a helmet law.
Well it looks as though it may become a reality. News is filtering through that the draft of new traffic legislation will include compulsory wearing of helmets for cyclists. There’s also more bad news, such as:
  • Cyclists must preferably use the right side of the road – cyclist must explain why they were not on the right side of the road after an accident
  • Bicycle trailers will not be permitted in certain cases on urban roads and bike paths
  • Possibly even a law requiring Children under 14 to be accompanied by an adult when cycling
If I were looking to introduce cheap and easy laws to devastate cycling in a country with a growing number of cyclists, I think that would do the job nicely. Not cycling in the gutter? Then it’s your fault you got hit. Thought it was safer on the left or middle? Think again. As for the Children under 14, even if the rumours that this has been dropped are true, it shows the level of understanding.
“If I were looking to introduce cheap and easy laws to devastate cycling in a country with a growing number of cyclists, I think that would do the job nicely.”
And bicycle helmet laws are also making a return.
Need it be said again that in Australia, New Zealand, Canada and wherever helmet laws have been brought in there has been a clearance of cyclists from the streets. For example cycle hours in New Zealand has dropped 55% since 1989/90. Cycling in Australia has also significantly declined with 37.5% fewer Australians riding bikes in 2011 than in 1985-86; all this with no discernible benefit for road safety. In fact there is evidence that these laws may unintentionally make cycling more dangerous; figures show that less people cycling means riskier cycling. This has been shown over and over again as a consequence of the ‘safety in numbers’ principle.
If these regulations cause the cycling numbers to drop like this in cities like Seville it will be even more of a shame. Seville has managed, through painstaking hard work on behalf of activists and good work by the authorities, to increase from under 2% a few years ago to about 6% modal share now. With those sorts of figures Seville is at the forefront of the cycling vanguard in Europe; that will be a thing of the past.
Want more?
For more information on helmets, see our Road Safety Page which outlines our position on helmets as well as this fact sheet on the Australian experience.
Similarly, not one bike sharing scheme has been a success in a city where helmet laws exist. Compare Dublin and Melbourne. Melbourne’s bike hire has been crippled by the helmet law, the scheme is costing taxpayers $5.5 million over four years and Melbournians are taking only 140 rides a day on the 600 bikes. Compare this with Dublin’s 450 bikes – used about 2720 times per day. No wonder the Spanish city authorities are getting a bit twitchy.
It is not only with the loss of bike sharing schemes that Spanish authorities could be shooting themselves in the foot. Apart from the usual benefits lost, the health benefits, the clean air benefits, CO2 reductions, congestion reductions, in Spain it is estimated that €1.5 – 2 billion every year is spent by cycling tourists, helmet compulsion could threaten this amount and would certainly arrest any cycling tourism growth in Spain. Most cycling tourists coming to Spain originate from countries such as France, Germany, Ireland, Netherlands, Switzerland and the UK; no helmet laws there, and there are grumblings and rumblings of dissent from abroad about this. It could turn out to be a very expensive piece of legislation.
We will keep you updated, so make sure you watch ECF’s website for updates.

quinta-feira, 21 de março de 2013

sistemas cicloviários na periferia

Enrique Penalosa disse que é crucial que a bicicleta passe de forma marcante pelo principal marco da cidade, o que é considerada regra para o sucesso da implantação de qualquer sistema cicloviário e do surgimento de uma cidade mais humana em qualquer parte do mundo.

Segundo quem conhece bem a periferia, eles querem é melhorias para o uso livre e sem trânsito do carro imposto zero novinho. Quando muito querem ciclo-faixa de domingo. Mas serem atrapalhados por ciclistas... nem pensar.

Quanto aos trabalhadores ciclistas... urge melhorias na segurança, mas como eles normalmente circulam fora do do horário de pico do trânsito de automóveis (imposto zero) são invisíveis, portanto sem retorno publicitário e político. E os problemas, graves e urgentes, são pontuais. Dá para resolver, em muitos casos sem grandes intervenções

Brincando com a questão: (No Brasil) “bicicleta (ainda) é coisa de pobre”. E como dizia Joãozinho Trinta (Santo Genial Joãozinho!) “Quem gosta de pobreza é intelectual. Pobre gosta mesmo é de riqueza” (e símbolo de riqueza no Brasil do IPI zero é carrinho novo).

Fazer rolar a questão da bicicleta no Centro Expandido é um trabalho imenso, que já está em andamento, um tanto azeitado. É muito trabalho, que se perder o foco vai acabar não saindo.

Quem quizer fazer algo realmente socialmente correto, por que não luta pelo pedestre da periferia, que não tem sequer calçada e morre ou fica aleijado as pencas? Por que não brigar pelos deficientes físicos e de mobilidade (em torno de 17% da população) dos quais muitos sequer conseguem sair de casa; são eternos presidiários? Esta é uma briga politicamente correta e para cachorro grande, estrategicamente mais importante que a própria questão da bicicleta. Ajeita esta situação que pedalar vira moleza

segunda-feira, 18 de março de 2013

jornalismo descobre o óbvio

São Paulo Reclama
O Estado de São Paulo
sobre:
Até vias próprias para bicicleta são inseguras, reclamam ciclistas
Metrópole 
C1 | Domingo, 17 de Março de 2013


Ótima iniciativa do jornal Estado de São Paulo em abrir um canal de reclamação para ciclistas no ‘estado.com.br’. Com isto ficou claro para o jornal uma série de problemas que até então o mesmo parecia se recusar ver. Infelizmente o tema ‘trânsito’ é tratado por toda a imprensa de maneira pouco investigativa, quase oficiosa, deixando de lado questões importantes, como critério de aplicação da lei, geometria da pista e sinalização, o que em vários casos é a causa real dos incidentes e acidentes. Isto se dá por que as matérias quase sempre foram apoiadas em dados oficiais e entrevistas com os órgãos responsáveis, ex-funcionários, consultores, o que está correto, mas que obviamente defendem seus próprios interesses ou procuram acobertar sua incapacidade ou inépcia. Infelizmente não tiveram a preocupação em buscar outras fontes ou mesmo simplesmente observar os fatos. Pior ainda no caso da bicicleta, que até recentemente era vista por jornalistas como brinquedo, esporte ou lazer. Há uma visão distorcida da realidade. A sensação que se tem é que matérias sobre a questão da bicicleta foram passadas para ‘focas’ (jornalistas novos e inexperientes) ou para jornalistas menos capacitados. O jornalismo se ateve a clichês como ‘pedalar é perigoso’; ‘a cidade não tem ciclovias’, ‘ciclista morto’... Em meus mais de 30 anos de ativismo pela bicicleta, pedestres, pessoas com deficiência e uma cidade menos violenta, cito um único jornalista com o bom viés jornalístico, Caio do Valle, que é uns dos que assina a matéria citada acima. Esta iniciativa do O Estado de São Paulo, abrindo um canal através de seu ‘estado.com.br’ é um excelente primeiro passo para o entendimento real das causas de nosso trânsito sanguinário, que estão muito além da análise simplista, por que não dizer simplória, que vem sendo feita sobre um tema crucial, porque não dizer ‘vital’.

 

sexta-feira, 15 de março de 2013

Fazer Justiça

Ozires Silva, (ex) Presidente da Embraer, deu uma entrevista no Jornal da Cultura onde falava sobre os progressos da segurança na aviação civil, que é o modo de transporte mais seguro que existe. O ponto principal é que nos acidentes de aviação não se procura um culpado, mas a compreensão de absolutamente todos os fatos diretos e indiretos que causaram o acidente, sem buscar culpados. Quando se busca um culpado e depois se vai para os fatos há uma distorção da verdade, e com isto não seja às causas reais do ocorrido. Segurança é a busca contínua da qualidade, de evitar repetir erros cometidos. Culpado é outra história. O que nos interessa: achar culpados ou evitar acidentes?

Infelizmente temos, brasileiros, a deprimente mania de primeiro apontar culpados, deixando para segundo plano a lógica dos fatos e a busca da verdade. Feito isto lavamos a mão.

No deprimente caso do ciclista que teve o braço amputado na Paulista as circunstâncias do acidente vão além do que a imprensa divulgou. A história é mais complicada do que parece. A favor do ciclista está o fato de ele ter ido para a contramão da avenida por que esta já estava conificada para a Ciclo Faixa de Lazer de Domingo, portanto segregada para a circulação de ciclistas. Mesmo assim, perante a lei ele estava na contramão. Ou talvez não. Vai depender do entendimento de detalhes legais. O julgamento deste detalhe vai ser uma complicação.

O fato mais importante é a total falta de... ética(?), moral(?), caráter do motorista, que por ter bebido deve ser responsabilizado pelo acidente e por ser estudante de ciência médica não ter prestado socorro. Se analisar a ação e comportamento motorista, situação social tão comum nos dias atuais, se vê um espelho do Brasil de hoje, sem ética, moral, caráter, irresponsabilidade, individualista, consumista, mal informado, tendencioso. O que aconteceu na Paulista provavelmente se repete Brasil afora sem a mesma divulgação. Vide os brutais números de mortes no trânsito e mortes violentas.

A meu ver é muito interessante que a UCB tenha um papel de orientação em casos jurídicos. Precisaríamos de um advogado ou bacharel para ajudar. Tenho receio em ver leigo falando sobre justiça. Tenho receio em ver julgamentos sem conhecimento neutro dos fatos reais. Mas acredito que a UCB deva fazer este exercício e se posicionar, se possível ajudar.

Para quem não sabe, segundo documento de órgão da ONU o Brasil é um dos campeões mundiais de linchamento. Físico, moral e legal. Quem se lembra, por exemplo, da história horrorosa da Escola de Base? O que foi feito da vida dos então imediatamente acusados?

Adoro a ideia da UCB realizar assessoria ou orientação jurídica, mas com critérios bastante claros, e acima de tudo justos. Quando digo justos, falo em justiça de verdade, sem tendências.

Só com Justiça se dará a segurança de fato para ciclistas, e principalmente pedestres, deficientes (17% da população), motociclistas, motoristas....

OU TODOS TEM JUSTIÇA, OU NINGUÉM TEM A VERDADEIRA JUSTIÇA

OU TODOS TEM SEGURANÇA, OU NINGUÉM TEM SEGURANÇA DE FATO

Arturo Alcorta

Presidente da UCB

 

quarta-feira, 13 de março de 2013

Banania split

O cara sai da balada às 5 horas da manha dirigindo com 3 vodcas e um energético na cabeça, atropela e por sorte só quase mata um ciclista que estava indo para o trabalho. Foge do local. Normal. O motorista é estudante universitário, de classe média. Normal. Cursa psicologia, o que é para poucos. Tem 22 anos, já não é uma criança, imagina-se que deva saber o que faz.

Segundo notícias da Internet vinha brincando com o carro na av. Paulista, fazendo zig-zag para caçar (chutar) os cones da Ciclo-faixa de Domingo que ainda estava sendo implantada. E dentro do espaço conificado, portanto segregado, havia um ciclista...  Com o impacto frontal o ciclista tem o braço decepado pelo para-brisa. O estudante de psicologia, ciência médica, foge do local sem prestar socorro por ter medo da reação dos que estão na rua às 5 da manha daquele domingo. Vai carregando o braço amputado. Vai até um córrego e descarta ali o incomodo pedaço de carne sangrenta. Um pouco mais tarde se apresenta numa delegacia (parece que com manchas de sangue na camisa) “ainda exalando hálito etílico”... , acompanhado de advogado, e (mesmo assim) vai preso. Haja burrice, haja imbecilidade!


Esta não é nada mais que uma história comum e cotidiana deste Brasil brasileiro. Acontece às pencas. O que faz alguma diferença é o braço amputado, mas como normalmente não são divulgados detalhes de nossas habituais barbáries, vai que também é fato não tão inusual assim.


No dia seguinte descobre-se que o ciclista estava na contramão, o que é noticiado aos quatro ventos. Na contramão! Mais tarde é esclarecido que ele foi para a contramão porque ali a av. Paulista já estava conificada para a abertura ao público, duas horas mais tarde, da Ciclo Faixa de Lazer de Domingo.


Quero ver como será julgada pela justiça toda esta história cheia de detalhes. Como ficará a vida do jovem amputado? Dos responsáveis pelo trânsito? E o motorista? As famílias? Amigos? Como seguirá nossas vidas?


Fora o fato normal, o que aconteceu? Como se pode julgar socialmente o estudante de psicologia? Faltou educação? Ética? Princípios morais? Caráter? O que nos falta? O que está acontecendo?


Como você olha o seu Brasil através deste espelho?

segunda-feira, 11 de março de 2013

Banânia sem braço

Ontem, Domingo 10 de Março de 2013, um jovem ciclista trabalhador foi ‘atropelado’ na av. Paulista esquina com av. Brig. Luiz Antônio e perdeu um braço, que ficou preso no para-brisa do veículo que causou o acidente, que por sua vez fugiu e jogou o braço num córrego. O motorista, um jovem que parece que havia saído da balada, se apresentou a Polícia e foi preso. E dai?

Esta história tem sido lugar comum nestas décadas de mortoboys, os inimigos número um do trânsito paulistano (?). E agora mais ainda com a socialização do uso da moto República do Nunca Antes da Banânia afora. Histórias como estas lotam em até 42% dos leitos hospitalares de algumas localidades do nordeste. Com desconto e ficando na média deve dar uns 30 e tantos por cento. Junta ai os pedestres e um pouquinho dos outros do trânsito, incluindo ciclistas. Alguém ai já viu o percentual (do custo) da saúde no PIBinho?
Tirando os garotos e meninas ligados nas redes sociais que foram protestar na av. Paulista provavelmente não vai acontecer mais nada. O pobre trabalhador de 21 anos vai ter que reaprender a viver sem o braço; o motorista vai ser julgado sabe lá quando, a justiça será feita, mas provavelmente não será justa... E a vida continua na República da Banânia.

Infelizmente somos nós, população, e eles. Os poderes Legislativo, Judiciário e Executivo não nos representam mais, são um outro país, uma realidade própria completamente desvinculada da população. Inclua-se ai, por mediocridade, a imprensa. Eles, brasileiros, governam nós, banânias. O resultado final é pífio, um desrespeito à Lei do Consumidor, que hoje, 11 de Março, comemora seu dia. Eles não entregam o que é devido e Banânia consenti.
Mas esta história também me remete à briga dos estudantes da USP contra a entrada da PM no campus. Aos bares próximos às universidades... No direito à liberdade, digo libertinagem... Na fantástica Constituição moderna que temos... Nos jornalistas assassinados...

Todos os povos têm suas distorções, mas nós realmente exageramos. Mais do que ‘Brasil, um país de tolos’, pode-se afirmar: ‘Brasil, um país de covardes, pobres, ineptos...’ Todos, sem exceção.
Não vai mudar nada.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Ponte USP - Parque Villa Lobos para pedestres e ciclistas


Finalmente São Paulo deve ter a primeira ponte sobre um dos grandes rios especialmente desenhada para ciclistas, pedestres e pessoas com deficiência, no caso o rio Pinheiros. Ligará a USP, de sua praça central, ao Parque Villa Lobos, exatamente onde este tem limite de terreno com o Shopping Villa Lobos.
O significado desta obra, caso ela realmente saia do papel, é imenso para o futuro da cidade e da vida de todos paulistanos e, por que não dizer, brasileiros. As mobilidades vivas não motorizadas ainda são relegadas à segundo (terceiro, quarto, quinto...) plano, até mesmo aos olhos das leis, incluindo ai o Código de Trânsito Brasileiro.

Sempre houve inúmeros projetos de passarelas sobre os rios, que por diversas razões nunca saíram do sonho, papel e tinta, e muita conversa fiada jogados no lixo, nada muito justificável. Justificativa mais plausível e real sempre foi a falta de pressão popular, o que é verdade. No passado falar em cidade para vida era coisa de louco, sonhador, utópico, imbecil, este último adjetivo normalmente o mais usado. A atual cidade brasileira foi formada principalmente por engenheiros e sua lógica um tanto cartesiana, completamente apoiados por quem tinha e segue tendo o real poder, construção civil e setor automobilístico, e uma população ignorante e com um forte complexo de inferioridade.
Mesmo sendo quase a realização de um sonho e de achar ‘bonito’ o projeto, gostaria de ter visto mais inteligência, força, simbologia, algo bem mais marcante, afinal é um marco histórico da nossa Inteligência.

Ponte – passarela.... estaiada. O povão adora estaiadas, principalmente nossa classe média e classe alta baixa. Acha chique, coisa de gente rica. Sabe como é? Faz vista! É moderno. É mesmo? Mas custa algumas tantas vezes mais que uma ponte normal. Não fosse estaiada sobraria para construir a ponte-passarela-ciclovia ligando bairro e favela Real Parque com o Brooklin, necessidade social econômica urgente-urgentíssima.
Pontes estaiadas roubam a perspectiva do horizonte, do ver longe. É uma intervenção vertical sobre as águas, como a imensa ponte estaiada do Brooklin, que aliás não foi a nossa primeira estaiada e que também desrespeita a lei por que não serve para pedestres e ciclistas. Simbolicamente paulistana.

A futura ponte-passarela-ciclovia faz par, isto sim, com a chiquérrima estação Santo Amaro do Metro suspensa sobre o mesmo rio Pinheiros.  Guarda as mesmas linhas de todas passarelas das estações da CPTM. Forma um conjunto. Oferece conforto de cobertura e certa proteção de ventos. No Ano do Dragão Chinês parece o próprio. Ou remete as maravilhosas pontes cobertas, em particular a de Zurique.
Não é por que a maioria das nossas pontes e passarelas é um horror temos que descartar projetos em concreto propendido em balanço, ou outras soluções de desenho leve, como se discretamente jogadas no ar, e que interferem tão pouco na paisagem que a população praticamente não as vê. Não confunda técnica mal aplicada com produto de baixa qualidade. Não confunda frufru e geringonça com obra de arte. Estaiada discreta é bem legal. Por que não com o estaiamento invertido?

Pelo que se vê nos desenhos de divulgação fico com dúvidas sobre como será seu funcionamento, se haverá horários de restrição, principalmente por que USP e o Parque Villa Lobos tem horário de fechamento.
Ficarei feliz, muito feliz, quando for inaugurado. Espero que eu olhe a obra final e diga: “Cara, que texto eu fiz? Isto aqui ficou muito legal!”. Não tenho medo de errar. Tenho medo de parar de sonhar.

segunda-feira, 4 de março de 2013

8.666

Para quem não sabe, 8.666 é o número da Lei de Licitação em vigor no Brasil. Costumamos dizer que é a lei do infinito (8) apocalipse (666), uma brincadeira que está muito próxima da mais pura verdade.

A lei 8.666 foi criada na melhor das intensão e tem por princípio que as licitações devem ter como prioridade o menor preço. Qualidade fica em segundo lugar, mas com uma série de instrumentos de controle. Instrumentos de controle? No Brasil, principalmente no Brasil atual? Piada! Não funciona! O resultado é o que se vê por ai, em todas as partes: péssima qualidade, tudo desfazendo rapidamente, perdas imensas, impossibilidade de bom uso; problemas com transporte, saúde, educação, serviços públicos de toda ordem... Um lixo.
Mesmo quem sempre defendeu esta Lei de Licitação está mudando o discurso. A boa intensão não funciona, nunca funcionou, é um desastre. O Brasil empobreceu muito depois dela. Vale para tudo, da compra de papel a construção dos estádios da copa, da falta de papel higiênico nos aeroportos a ambulância do SAMU quebrada.

Um dos problemas para a lei 8.666 não dar certo é a baixíssima qualidade do trabalho prestado pela grande maioria dos brasileiros, tanto na habilidade específica, quanto no caráter. O prazer, correção e a honra do trabalho estão hoje passados.
Infelizmente tive que fazer uma obra de reforma de um banheiro. Quem já teve a experiência sabe do que estou falando. A obra que deveria estar pronta em 15 dias, ficou em quase 3 meses; o horário de trabalho deveria ser de 8 horas diárias, mas o pessoal, quando vinha, chegava lá pelas 10 h e ia embora lá pelas 15 h antes do trânsito. Obviamente paravam para almoço. paravam por falta de material (não pedido). Obviamente estouraram um cano, encheram de água; deixaram a obra inacabada, com problemas de acabamento, limpeza, mal funcionamento, esgoto entupido por uma palha de aço jogada na privada, os outros cômodos sujos, paredes com mãos, móveis manchados... Fizeram, refizeram para corrigir o erro... Desapareceram ferramentas minhas, algumas vistas nas mãos deles, apesar de meu pedido para não toca-las. Um quarto fechado a chave foi aberto e revirado, roupas desapareceram, um brinquedo raro foi quebrado... Custou umas 3 vezes o previsto, sendo que boa parte do custo foi para pagar erros básicos e estúpidos dos próprios trabalhadores... Não deveria reclamar por que não foge a regra do que contam amigos que trabalham na construção civil, ou mesmo do que vi na reforma das ruas de meu bairro.


Bernardo, ótimo ciclista, preocupado com a qualidade, faz mecânica e manutenção de suas bicicletas em casa por que praticamente não há mecânicos de qualidade no mercado. E a situação só piora. Não é só nas bicicletarias, mas na maioria dos setores, públicos e privados, a qualidade da mão de obra só piora. Mas porque acontece isto?
Olho para o que aconteceu em meu banheiro e para minha vivência com a Argentina, junto os dois e tenho uma teoria, senão uma certeza: o problema é o caráter coletivo no ar, desintegrado por este populismo barato e extremamente perigoso.

Continuo buscando resposta e olho mais longe, para o Brasil de “antes”. Sempre tivemos um problemão de educação formal, escola, mas também sempre tivemos uma mão de obra que se esforçava muito para trabalhar direito, para crescer, progredir. Progredir! E construímos um país. Não se pode negar que naqueles tempos, do antes, construímos um país, andamos para frente, que as coisas que foram feitas naquela época duravam. Havia muitos e graves problemas, mas aos poucos fomos para frente.
O desrespeito que o trabalhador (?) tem pelo trabalho é notável. Trabalho hoje é quanto e ponto. Perdeu-se a noção de trabalho ligado a honra, a uma obra, ao futuro coletivo. Eu sou pobre e tenho direito vem em primeiro e disparado no frente.

Infelizmente poucos que creem na construção de um Brasil justo falam sobre a importância da qualidade, que só é construída sobre os pilares da boa educação e principalmente de bons valores sociais. Infelizmente socialistas e comunistas de plantão ou ocasião, como os de hoje, se esquecem que o justo objetivo só é alcançável dentro da coletividade e honestidade. Coletividade significa todos, sem distinção. O que temos hoje são aproveitadores que estimulam o consumismo e individualismo exacerbado em troca de votos para a permanência no poder. Nesta condição é impossível fazer valer algumas leis bem intencionadas. Lembre-se disto quando passar por aquele defeito na ciclovia recém construída.

Vale a pena ver a fala do Alexandre Garcia no Bom Dia Brasil de 04 de Maço de 2013: http://globotv.globo.com/rede-globo/bom-dia-brasil/v/alexandre-garcia-questiona-a-ma-qualidade-das-estradas-brasileiras/2438901/

E o texto de Renato Janine Ribeiro, “Ciclistas apoiam a democracia?”, publicado no Valor Econômico também de 04 de Março de 2013: http://www.valor.com.br/politica/3029706/ciclistas-apoiam-democracia#ixzz2MZu3JCWa

sexta-feira, 1 de março de 2013

Fórum Mundial da Bicicleta 2013, Porto Alegre, RS

(Minha fala, última mesa do Fórum Mundial da Bicicleta de 2013)
Começo com uma provocação:
Você já leu a bíblia? Deveria. Dependendo da versão, é um fantástico livro. Trata sobre comportamento e organização social. Li, não faz muito tempo, a versão de um missal que foi de minha mãe quando jovem; leitura muito leve e agradável. Pouco depois de ler o missal encontrei a Bíblia que éramos obrigados a ler no colégio de padres que estudava então, uma versão de texto pesado, cheio de preconceitos, o que me fez ter horror pela igreja. Tentei ler o Corão, mas não consegui por que era muito pesado. Talvez tenha outra versão. Já li um resumo do Bhagadav Gita, dificílimo, e algo sobre Budismo. Infelizmente não sei nada sobre o Torá.
Recomendo a leitura do livro “bíblia”, numa versão neutra, simples, como meio de compreensão do que somos. Também é uma história fascinante.


É da condição humana o péssimo hábito de rotular tudo, situações e pessoas. Trazemos a realidade para que esta se encaixe o melhor possível em nossa vida e capacidade de aceitação. Há um componente biológico que traz uma necessidade de ambientar a própria consciência num cenário imaginário no qual se possa sobreviver. Do receio ou medo do que nos cerca surgem mitos, fantasmas, fantasias.
Com o tempo e os fatos da vida amadurecemos e a realidade fica mais lógica, compreensível, menos assustadora. Isto acontece tanto pelas experiências da vida quanto pela desaceleração biológica do próprio funcionamento do corpo. O mesmo acontece com a sociedade.
A melhor e ao mesmo tempo a mais malévola qualidade é nossa imensa capacidade de adaptabilidade, seja para o bom ou ruim. Adaptabilidade muitas vezes leva a aceitação, que exagerada é veneno mortal.
 

O que vi ou ouvi no Fórum Mundial da Bicicleta de Porto Alegre 2013 me deixou... alegre, feliz de verdade. É normal que o movimento pró uso da bicicleta amadureça. E amadureceram. Felizmente o forte viés que colava a esquerda e a questão da bicicleta como uma coisa só está se desfazendo, pelo jeito rapidamente. Num passado não muito distante era feita uma mistureba que na realidade é muito prejudicial aos objetivos dos ciclistas, da bicicleta, da própria sociedade e principalmente de cada um dos ativistas individualmente. Fechava-se as portas ou criava-se restrições para quem pensasse diferente, o que é burrice e perda de tempo. Falava-se em processo democrático com uma leviandade incrível. Ainda há um pouco de distorção, mas parece que se vê o surgimento de um caminho novo, realmente democrático.

Confesso que provoquei o pessoal felizmente sem ouvir ou ver caras. É óbvio que a maioria ainda é muito ligada a ideologias históricas da esquerda, mas agora parece que estão dispostos a ouvir. Deu a impressão que caiu a ficha que bicicleta é uma coisa e ideologia e partido político é outra. Uau! Equilíbrio e justiça social não é criação ou propriedade da esquerda, assim como o movimento de melhoria da qualidade de vida nas cidades não é exclusividade do movimento da bicicleta. Muito menos de qualquer de seus segmentos ou grupos.

Fizemos piadas (politicamente incorretas? coisa horrorosa!) entre amigos e rimos muito. Em alguns momentos o fórum lembrava um AAA (associação de alcoólatras anônimos) ou uma assembleia de deus... Nunca vi tanta bicicleta fixa junta, das boas, o que nos leva a que ser de esquerda numa fixa deve ser mais chique (e caro)...
Infelizmente estava exausto e não acompanhei a bicicletada... ops!, desculpa... a massa crítica... ops! desculpem outra vez... Não, não sei como chamar o passeio. Ops! mais uma vez desculpas; não é passeio... Enfim, a porra que seja, que estava bem bacana e cheia. Também não fui a festa de confraternização, da qual até os mais experientes acharam um tanto estranha (o povo), mas gostaram.
Pelo que soube todo evento foi organizado essencialmente por cinco pessoas, a maioria meninas. Através de arrecadação espontânea pelo site conseguiram cobrir os gastos, o que me deixa muito feliz, feliz mesmo. Em várias oportunidades do passado o evento tão de ‘companheiros’ sobrava feio no rabo do organizador. Eram todos iguais, menos na hora de socializar os custos. Típico. Socialismo é bom com o dinheiro dos outros, diz a piada.
Não posso deixar de elogiar a programação e o público presente, sempre enchendo as salas, algumas com palestras ou falas simultâneas.
 

Aproveitando a oportunidade fizemos um encontro para falar da UCB – União dos Ciclistas do Brasil, que não anda nada bem das pernas. Estou presidente, com restrições, e espero que consigamos resolver as questões e que a UCB tenha futuro promissor.


Passei por Joinville para ver como vão os trabalhos de reabertura do Museu de Bicicletas de Joinville, que ficou fechado nestes dois últimos anos e tanto, numa ação que a administração da prefeitura do PT de então nunca conseguiu explicar bem a razão. Patético e sem sentido. Bom, enfim, dia 9 de Março próximo o MUBI reabre as portas com garantias de bom futuro.