segunda-feira, 24 de setembro de 2012

22 Setembro 2012, Dia do Tiro no Pé (do acelerador)


O dia terminou quando cruzamos na av. Paulista com o grupo Bicicletada, que ocupava organizadamente as duas faixas central. Tirando os cantores de ópera obrigatórios em qualquer manifestação, um deles boca grudada no megafone, outro urrando no meio do trânsito para nós, na calçada, que nos juntássemos ao movimento (!?!), que mais parecia um passeio ciclístico noturno qualquer. Já havíamos cruzado com um grupo pequeno de ciclistas, uns 30 se tanto, também bastante tranquilos e ocupando a faixa da esquerda, pedalando sobre a marcação da Ciclo Faixa de Lazer de Domingo / 7h – 16h. Achamos que não poderia ser a Bicicletada pelo número reduzido e a calma. Pelos poucos que eram não, mas pela calma poderia.

22 de Setembro de 2012 passou leve, com um gosto de dia ‘de festa’ mais bem comemorado que nos anos anteriores. Houve evento em muitas localidades de São Paulo e não se ouviu histórias sobre incidentes. O rosto do pessoal que participou estava feliz, expressão de missão cumprida. Talvez porque eventos, comemorações e protestos festivos começaram bem antes, dentre eles e especialmente a Semana Nacional do Trânsito promovido pela DETRAN SP (com ANTP). DETRAN SP está presente em praticamente todas as cidades do Estado e o fato de que eles colocaram a cara para trabalhar por mudanças é muito relevante.

E no fim do dia muitos ciclistas estavam circulando pela cidade, voltando de eventos, de passeios ou do trabalho, e os motoristas no trânsito, mesmo onde os ciclistas “atrapalhavam” (Quem? Quando? Por que? Como?), pareciam também mais calmos e compreensivos que no passado. Seria por causa do dia ter caído num sábado? Eu prefiro acreditar que o paulistano entende melhor a razão de um movimento que no final das contas quer frear o uso irracional do carro. Talvez a razão mais forte para a mudança seja a própria sina a que motoristas estão impiedosamente submetidos no dia a dia. O feitiço virou contra o feiticeiro.

Somos todos humanos e era de se esperar que um movimento como este, que pede uma grande mudança de paradigmas no transporte e mobilidades, e no uso do espaço público das cidades, passasse estágios de aceitação da população. A história da humanidade se repete sempre, e veio o espanto jocoso com a pretensão de um Dia Mundial sem Carro; a negação; a curiosidade sem saber como agir, que é mais ou menos onde estamos; a concordância sem resultados concretos por falta de experiência (ou estaremos aqui); e a transformação lenta e gradual possível, necessária e obrigatória – que acontecerá.

Nosso grande aliado é o tiro no pé da própria indústria automobilística: 0% de IPI que vem destruindo nossas cidades. O PT fez todos brasileiros sentirem na pele seus princípios: 0% e emprego garantido para os companheiros de sindicato do setor que pariu este partido. O resto é resto. Aos amigos tudo... O interessante foi o comunicado divulgado há alguns dias pela própria indústria automobilística no qual declarou sem meias palavras sua preocupação com o caos do trânsito das cidades. É óbvio, Pedro Bó!

Para nós, que lutamos por equidade, infelizmente quantos mais carros nas ruas melhor porque obriga aos deslumbrados com as benesses do populismo barato a pensar, ou vão ser enterrados dentro de seus próprios carros - literalmente. Hoje saiu que média de velocidade dos carros que circulam em São Paulo em horário de pico é menor que 8 km/h. Nessa condição bicicleta é avião; e mais um pouco pedestre será Usain Bolt.

A pergunta que fica é clássica e muda: Que cidade queremos? E eu deixo um ditado também clássico: Quando a esmola é muita o pobre desconfia. Se não desconfia é porque é burro ou retardado. Coitadinhos...

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