quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Novos impostos. Velhos impostores?

Os novos impostos para bicicletas são os que estão no link abaixo

http://www.transaex.com.br/noticias.php?id=719

• Pneus de borracha, dos tipos utilizados em bicicletas (NCM 4011.50.00): de 16% para 35%;

• Bicicletas (NCM 8712.00.10): de 20% para 35%;

É literalmente uma vergonha! Agora que a coisa está caminhando bem. Boneca deslumbrada?

A alegação de proteção à indústria nacional, na forma de aumento destes impostos, só serve para quem tem interesses individuais ou pessoais. Quem atendeu a este pedido, de aumento de impostos sobre bicicletas e pneus importados, desconhece o que é o setor brasileiro de bicicletas e suas práticas. Do contrário não daria um tiro no próprio pé.

Conhece a verdade dos fatos, coloca no lápis, faz contas básicas e tira suas conclusões. Um mais um são dois e provavelmente consideraria uma burrice sem tamanho aumentar estes impostos. Proteção a indústria nacional? Proteção a geração de empregos? Ora, faça-me rir! Só não entenderam que talvez que esta indústria nacional não atenda aos interesses do futuro do Brasil. Este é o ponto. Conheçam e façam uma análise isenta. Conheçam as histórias, conheça a realidade, investigue. Não ouça só uma versão dos fatos. Governo existe para mediar a sociedade, no sentido de construir um futuro melhor para todos, e não para atender interesses individuais. Bicicleta é ou não interesse do Brasil?

Quem fabrica pneus no Brasil? Levorin? Quem mais? Quem tem peso para fazer pressão para mudança de impostos? Alguém do Governo Federal tomou o cuidado de ir até qualquer loja que venda bicicletas com pneus nacionais (made in Brazil) e apertou os ditos pneus para ver se estão cheios? Perguntou ao vendedor por quanto tempo ficam cheios? Tiveram o cuidado de ir às bicicletarias e ouvir de quem vende pneus e câmaras nacionais o que eles acham sobre a qualidade dos produtos? Ouviram os usuários? Por que não fazem teste comparativo com os importados? Durabilidade, resistência a furos, perda de ar, grau de atrito, aderência, deformação, assentamento no aro, pressão máxima... Há técnicos especializados em acidentes envolvendo ciclistas para definir a responsabilidade de pneus nos acidentes?

Industria nacional de bicicletas: Quem prejudica as grandes marcas nacionais? As importadas? Ou as informais? Sim, as informais que os próprios afirmam existir e ser responsável pela metade do mercado? Então, qual é o problema para o Brasil: umas poucas centenas de milhares de bicicletas importadas (provavelmente não deve chegar a 200 mil) que pagam impostos, ou mais de 2 milhões e meio de bicicletas fabricadas informalmente no Brasil que não existem, portanto não pagam nada de imposto? Por que não foi colocado no lápis esta conta simples? Quanto arrecada o Governo com o imposto de importação X o que não se arrecada com a indústria informal? Quem realmente prejudica a indústria nacional oficial? Será efeito “Zona Franca de Manaus”? Ou vontade pessoal de mauricinho em foder a alma de uma marca brasileira nanica? Qual é a verdade? Proteger a indústria nacional?

Alguém colocou no lápis o tamanho do estrago que estes aumentos de impostos fazem para bicicletarias, ciclistas, projetos de viabilização da bicicleta como modo de transporte e o futuro das cidades? Alguém pensou no que significa isto em termos de custos hospitalares? Sim, hospitalares! Custo de ciclista acidentado! Qual é o percentual real de ciclistas que sofrem acidentes por falha mecânica da bicicleta? Bicicletas importadas com padrão internacional têm índice praticamente zero de defeito. Qual será o nacional?

Por que não se manda qualquer bicicleta nacional, principalmente as básicas, para um organismo internacional de avaliação de qualidade e segurança? Vamos lá, Governo Federal, façam isto, tenham coragem, há milhões de trabalhadores se transportando com elas. Bicicleta é veículo por lei (CTB) e deve oferecer segurança. Vamos, manda um lote de "bicicleta indústria brasileira", com vários modelos, de várias faixas de preço, para ser avaliada lá fora. Vai ser interessante.

E pergunto aos fabricantes nacionais: o que aconteceu há uns anos atrás, naquela história que me contaram dos pneus, não vai se repetir novamente? Vocês vão colocar a produção nas palavras de um único fornecedor nacional? Parabéns! Ou o acordo foi muito bom, ou vocês vão ter que correr de novo e desesperadamente para fornecedores de fora. E ai, se a situação se repetir, quem vai pagar o custo do imposto mais caro? O comprador? Genial. Aliás, pensando bem, como vocês vão fazer o cálculo de custo das bicicletas topo de linha? Vai ficar muito mais caro ou vão vender com pneus impróprios? Vão mudar as características técnicas das bicicletas? Ou o pneu importado que entrar pela Zona Franca não paga a mesma coisa? Ou ainda vão fazer como uma famosa marca de motos obrigada a montar (na Zona Franca de Manaus) as motos com um pneu inseguro para aquele modelo, mas nacional? Feita a venda da moto os pneus importados, apropriados para as características da moto, eram entregues como brinde (custo incluído no preço final da moto, é lógico)? Enfim, como vai ser com as bicicletas nacionais mais sofisticadas?

Organizar um setor como o das bicicletas requer planejamento, principio, meio, fim "e futuro". Atender a demanda de um ou dois sem olhar o todo é repetir erros grosseiros do passado. Fizeram igual na década de 90 e o resultado é que o mercado deu uma freada violenta, e, acredito eu, esta foi uma das razões para a Caloi quebrar na administração da família Caloi. Aumentar imposto da concorrência é uma doce e burra ilusão porque, por mais que queiram, não há qualidade para ser concorrência.

Se as autoridades querem mesmo organizar e incrementar a questão da bicicleta é necessário olhar com seriedade para o todo e não só ficar restrito ao cabresto do sistema cicloviário, obras, asfalto, sinalização... Negam assim que circula neste sistema cicloviário um veículo chamado bicicleta. A história moderna da humanidade prova: “ao socialismo se vai de bicicleta”.

O Governo Federal, que presta serviços à sociedade, deve explicações sobre esta história. Ou dá mais uma prova de seu interesse pouco sério por este veículo tão popular chamado bicicleta.

Vocês acreditam mesmo que vamos chegar a algum lugar com este nível geral de qualidade de bicicletas? Creio que a resposta está na “piãozada” que assim que pode troca a bicicleta, que sempre dá problema, por uma moto. Custa menos. Como já disse um milhão de vezes: o melhor vendedor de motos deste país é a indústria nacional de bicicletas.

Ou se faz com qualidade ou se faz com jeitinho brasileiro. Eu fico com qualidade, que tem critério, princípio, meio e fim: segurança, conforto, sustentabilidade, equidade. Eu fico com as Embrapas deste Brasil. Há muitos exemplos a seguir aqui. Basta escolher o que se quer.

3 comentários:

  1. Arturo, lembra-se de quando mandamos 10 bicicletas de um renomado fabricante local que, com quadro de alumínio, almejava fornecer para exportação para a Specialized com custos competitivos na época para testes ? Nenhum quadro passou no teste da Specialized, e nem era um tipo de IPT americano. Lamentável tudo isso. Brilhante post ! Abração

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  2. E mais, são só 2 empresas responsáveis por tudo isso, uma de pneus (pq a Pirelli não está nem aí P/esse segmento) e a nossa famosa fábrica de bicicletas !!!!! Não é muito complicado contratar um lobbista com trânsito em Brasília para conseguir isso. Os empregos envolvidos são pífios e nada justifica isso, a não ser a corrupção rolando solta. Coitado do Caio, que faz o melhor produto custoxbenefício, mas não tem bala para lutar contra isso. É o Brasilllllllll ! Abração

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