quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Oh dia!, oh vida!....

Este texto esteve esquecido por muito tempo. Estou com saudades de escrever para o meu blog e não venho conseguindo tanto por falta de tempo, quanto porque estou meio capengando num cansaço que só se explica num “issstressssi” sem tamanho.

Vamos lá que não vai fazer muito sentido mesmo, mesmo assim vamos lá:

Do texto antigo:
2009 foi um ano magnífico para mim e para a Escola de Bicicleta, provavelmente o melhor de sua história. Ai veio 2010, ano dos meus 55 anos, grandes esperanças, festas, etc e tal. Ups! Não está sendo bem assim.
A verdade é que de fato neste final de 2010 ainda acho que está sendo um dos anos mais estranhos de minha vida. O primeiro semestre, quando escrevi este lamento que aqui está postado em itálico, foi uma loucura porque praticamente não pintou trabalho e mesmo assim não parei de trabalhar um segundo. O segundo semestre acabou entrando um ótimo trabalho, que no devido tempo conto, e virando a maré de uma falência trabalhosa para uma trabalheira quase que monetariamente compensadora, mas como experiência de vida e aprendizado maravilhosos, exaustivos, mas maravilhosos.

Por onde começar as lamentações? Certamente lembrando o personagem de Hanna Barbera, Hardy, a hiena, que lamentava absolutamente tudo com a frase “Oh dia, oh azar...” . Sem dúvida faz muito tempo que não tenho tempos tão tumultuados tão demorados, como o direito a repetir “tão” tantas vezes. “Tão tantas” dá boa letra de rock pauleira, Aliás, tão e tantas quantas eu bem entender!, digo para mim mesmo, ou será para eu mesmo. Par ou impar. Não precisa, fico com a última hipótese. Ninguém tem nada a ver com meu mau humor e minhas mazelas. Mas me guardo o direito: “Oh dia, oh vida...”
Um dia, sentado à mesa com uma tia, Maria Elena, sem “h”, falava eu sobre minha diabete e ela mandou de bica um “Você está ficando hipocondríaco”. Boas verdades não deviriam doer porque é o que de mais honesto se pode fazer com quem se respeita. Pelo menos consigo próprio, já que algumas vezes não dá para agüentar tanta choradeira. E ali percebi que deveria mudar de canal. E mudei. Aquele comentário acabou sendo marco de vida.

Dos bons momentos de minha família, quando minha mãe ainda vivia, era quando meu irmão, coração de ouro, mas mal humorado de nascença para algumas coisas simples e bestas, ficava tão mal humorado que disparava a rir sobre seu próprio mal humor. Numa das feitas chegamos a ter que levantar da mesa de tanto rir da situação. Aliás eu e minha mãe rolamos no chão às gargalhadas – literalmente. Não me lembro bem sobre o que se tratava, mas com certeza era fato insignificante na vida de qualquer ser normal, o que meu irmão não é muito, e que para ele era um drama. Até hoje não usa computador por que o marcador de posição de digitação fica piscando sem parar. “Não dá para parar esta merda. Assim é impossível”rosna alto ele. Não adianta argumentar que sem a marcação não haverá forma de saber onde você está no texto. Ele é da geração que se fez em máquina de escrever mecânica, tornou-se livre docente e publicou alguns livros, e nunca precisou de “uma coisa enervante piscando”. Tem cacife intelectual para que os que o cercam digitem seus trabalhos. Aliás, não entrega o trabalho sem acertar pagamento. O cômico é que digita maquina mecânica sem olhar para o teclado, e o faz rápido.
Ter consciência de seus próprios defeitos é quase uma arte. Acredito que olhar os próprios defeitos, erros ou deslizes, é o melhor caminho para o crescimento, para o amadurecimento. Alguns a gente não corrige. Talvez eu tenha me apropriado do ditado “não jogue para os outros seus próprios erros” com um pouco demais de ortodoxia. Pouco demais é uma expressão ótima, tipicamente brasileira, bem em cima do muro. Enfim, parto do princípio que se houve alguma coisa errada na qual estava de alguma forma envolvido provavelmente eu tenho uma parte de responsabilidade ou poderia ter feito diferente e ter chegado a um outro resultado. O que é de fato verdade, mas qual é o ponto de equilíbrio para minhas próprias cobranças? Amadurecer a que custo? Chego a esta altura do campeonato consciente que se o custo for muito alto a maturidade não vem. É óbvio que chutando todos paus da barraca também não. O ponto de equilíbrio está num botão vermelho bem grande e visível que fica no meio do painel de controle de nossas vidas, de cada uma delas, onde se lê “FODA-SE!”, mas quem de nós sabe usá-lo com sabedoria?

Quando tinha uns 20 anos eu dei uma exagerada na festa e tive o que parece ter sido uma morte, um desligar completo dos sistemas. Muito provavelmente minha glicemia zerou eu apaguei para valer. Uma sensação bem diferente das minhas 4 pré-comas glicêmicas, quando meu corpo inteiro entrou em cãibra, um terror principalmente para quem vê. O fato é que no dia seguinte,voltando da faculdade, parei na frente de um jardim e descobri que a vida para valer era outra, e a partir daí comecei a ver minha felicidade de frente. A outra experiência mais forte foi num Cactus Cup, prova que sempre foi meu sonho chegar bem, ir para o pódio. Larguei mal, estava com a bicicleta errada para o circuito, e quando vi estava muito atrás, lá nos “úrtimo”. Na subida forcei demais e quando chegou na descida não dei um tempo para acalmar, o que resultou num desmaio em cima da bicicleta que só não resultou em chão porque raspei com a lateral no barranco e voltei uns metros depois. Ainda dei um grito com o cara que estava na minha frente, passei e ai caiu a ficha que aquilo ali era simplesmente uma prova esportiva e não uma batalha real de guerra. O peso da besteirada toda foi pesado, mas muito educativo.
Vira e mexe recebo a notícia que alguém que conheço foi atropelado ou sofreu algum acidente com sua bicicleta. Não consigo entender. Não sei se minha auto-cobrança me manteve distante dos acidentes ou se tive muita sorte. Provavelmente os dois. Tenho certeza que disciplina técnica na condução da bicicleta faz muita diferença na segurança no trânsito. Ai sim se acontece alguma coisa errada o erro é (em 95% dos casos) meu. É dado estatístico, científico e ponto final. Não dá para ficar nem no “Oh vida!, Oh dia!...”; nem no sempre passar a responsabilidade para os outros. E no meio destas disciplinas de pilotagem tem que saber usar o botão “FODA-SE!” – e saber usá-lo com bom senso e sabedoria, do contrário quem se fode é você próprio. Não tenho a menor dúvida que a pior coisa para quem pedala na rua é brigar com o trânsito. Daí minha distância da Bicicletada. Para mim a bicicletada deveria ser da paz, simpatia, do agregar e da boa vida.

Durante uns três dias fiquei tentando mandar as respostas de mensagens da Escola de Bicicleta sem sucesso. Não saía do computador. Tenta, tenta e nada. Valéria acabou vindo aqui e depois de muito olhar percebeu que um endereço tinha uma vírgula no lugar do ponto. “Pode ser isto” disse e foi ai que olhei os outros endereços e vi que praticamente todos estavam errados. Resultado da transferência dos endereços do velho computador para o novo. Ou melhor, foi um problema de “Vista”, não a minha, mas aquele maravilhoso programa da Microsoft que, dizem os teóricos do complô, foi criado nos Estados Unidos; mas todos sabemos que foi criado no Centro de Estudos Avançados de Softers da Coréia do Norte, que usava então os fantásticos computadores HP 6615br, iguais aos que acabo de me livrar, a pedido de um padre exorcista.
Há momentos ou coisas que acontecem na vida da gente que simplesmente não temos como controlar. Faz parte do jogo. Com alguns ficamos neuróticos, com outros simplesmente desligamos, ou seja, metemos uma porrada tão forte no “FODA-SE!” que ele emperra para aquela situação. Procurar ver a própria balança e buscar seu melhor equilíbrio torna-se então crucial. E que não se engane que conseguimos o feito do equilíbrio, da maturidade, num piscar de olhos. Tudo se consegue um passo por vez. E dependendo do desequilíbrio o passo deve ser maior ou menor, mais rápido ou mais lento, mais suave ou pisado... A vida não é fácil e ai está justamente a graça dela.

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