segunda-feira, 21 de junho de 2010

Comentários sobre "Não à bicicleta" de Jaime Waismam para o "Debate" do Estadão

O Estado de São Paulo São Paulo Reclama

Sobre o “Não” do ‘*Em pauta (Debate de segunda, 14 de Julho de 2010) – É viável em SP um sistema de locação de bikes? respondido por Jaime Waisman.

Jaime Waisman respondeu para o “*Em Pauta” que “A cidade (São Paulo) é menos favorável que a do Rio à utilização de bicicletas no dia a dia, seja por questões climáticas, maiores distâncias a percorrer, terreno mais acidentado ou ausência de belezas naturais.”. Parece demonstrar um estranho desconhecimento sobre a questão da bicicleta e até sobre a cidade onde vive. O clima de São Paulo é normalmente menos inclemente que o calor feroz do Rio. Qualquer cidade é viável à utilização da bicicleta. São Paulo não foge a regra, aliás, é mais fácil que outras por seu desenho urbano, seus bairros ilhados por avenidas, a farta possibilidade de estabelecer caminhos alternativos às avenidas.
Bicicleta é ótima para curtas distâncias, para interno de bairro, coisa de até uns 4 km ou 20 minutos de viagem. Bicicletas comunitárias são usadas em distâncias menores que 2.5km (Bicing – Barcelona). Quem conhece a questão das mobilidades sabe que cada modo de transporte tem uma característica específica e uma função estratégica dentro de um sistema de transporte, independente do tamanho da cidade. A bicicleta não deve se prestar a longas distâncias e quando isto acontece é porque o sistema está muito desajustado. Vários respeitados professores recorrem à topografia acidentada para afirmar sobre a inviabilidade do uso da bicicleta em São Paulo, esquecendo da vasta área das bacias dos rios Tiete, Pinheiros e Tamanduateí, e do resto de nossa hidrografia.
É óbvia a beleza maravilhosa do Rio, como é óbvio que de dentro de um carro só se vê o pior de uma cidade. Experimente pedalar e uma São Paulo muito mais simpática e humana aparecerá.
“As experiências relativas ao uso da bicicleta na cidade (São Paulo)... apresentam resultados numéricos pouco expressivos...” afirma Waismam, exatamente como boa parte dos especialistas em transporte ou técnicos de trânsito paulistanos quando não lhes interessa algum tema ou simplesmente querem negar a existência do que está ai. Vide o caso dos pedestres. O número de ciclistas em São Paulo já é sensível e está crescendo muito rapidamente, assim como os problemas advindos deste crescimento completamente solto e desordenado. Negar a existência do ciclista é repetir a aviltante história do motoboy paulistano. “Numa cidade que registra, em média, 2 mortes de motociclistas por dia em acidentes de trânsito seria sábio e prudente estimular este uso (da bicicleta)?” pergunta Waismam, discurso também comum a quem ainda vê trânsito e a cidade de São Paulo com os olhos de 30, 40 anos atrás. Omissão de responsabilidade, tipificada em lei, é regra, assim como a postura “não faço para não ser responsável” também é. O revide dos motoboys é fruto de ruptura social. A agressividade crescente de ciclistas inconformados também. Um professor universitário deveria conhecer o significado de inclusão social.
2 PSs.:
1- Tamanha é a brutalidade de nosso trânsito que óbitos deveriam ser tratados como casualidades de guerra. Neste estado de coisas, acidentes com vítimas não fatais, que ninguém sabe quantos são, deveria ser o foco prioritário, até porque custam caro, muito muito caro mesmo!
2- Como ciclista e educador de ciclistas afirmo que no geral o motorista paulistano tem bom comportamento com ciclistas. A maioria dos problemas é causada por ciclistas que não fazem idéia de como se comportar no trânsito. Ciclista educado, que pedala na mão e em linha reta, que toma cuidado nos cruzamentos, é visível à noite, e sinaliza claramente suas intenções raramente tem problemas

3 comentários:

  1. É isso aí. O transporte por bicicletas pode se mostrar uma excelente alternativa para milhares de pessoas que precisam se deslocar entre bairros próximos, ou nos arcos perimetrais da periferia, onde o transporte não radial é muito complicado. Um dia chegaremos lá.

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  2. Tem gente que precisa se informar mais, viajar mais, sair mais de seu quadradinho, entender que, falando-se em bicicleta, "viabilidade" não é a substituição completa de um automóvel por uma bicicleta (onde e se possível SIM)mas a integração dos modais de forma inteligente. Quando não se deseja algo, qualquer argumento pode ser contra.

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  3. Eu sou superintusiasta da bicicleta. Sempre vou de bicicleta até o metrô Barra Funda e deixo-a lá no bicicletário. Às vezes me estendo e, quando estou a fim de um exercício (e aventura), vou até Santo Amaro (meu serviço) de bicicleta. Mas eu não acho que o meu bairro seja tão favorável à bicicleta assim. Moro no início da Deputado Emílio Carlos, logo no final da "ladeira" do Largo do Limão, próximo à padaria "A Lareira", e não é qualquer um que consegue subir aquilo de bicicleta. No começo eu mesmo não conseguia. Mesmo à pé, aquilo é terrível. Acho que a gente tem que defender o uso da bicicleta, sim, mas não pode deixar de ver que muita gente simplesmente não está a fim de, ou não pode, subir morros intermináveis como os os de Santana e Perdizes, para não citar outros lugares. Creio que muito poderia ser feito pela bicicleta em SP, mas em certos bairros a magrela é incompatível, pelo menos pra maioria.

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