quinta-feira, 27 de agosto de 2009

As ciclovias prometidas, a ciclo-faixa de fim de semana, e eu


“As ciclovias prometidas” é título de texto publicado ontem, dia 25 de Agosto de 2009, no Notas & Informações do jornal O Estado de São Paulo, página A3. Tendo como subtítulo “O aumento do uso de bicicletas exige maior segurança para os ciclistas” o texto dá um apanhado neutro e verdadeiro sobre a situação da bicicleta no Município de São Paulo. É fantástico ver que a questão da bicicleta enfim sai da posição de matéria que tem que ter cheiro de curiosidade, atualidade, moda, para chegar no espaço mais nobre deste que é um dos mais respeitados jornais do país. Alerta sobre incomoda condição do ciclista paulistano e informa sobre o que se pretende e deve fazer para reverter esta situação. Até que enfim caiu a ficha que bicicleta não é brinquedo, esporte ou lazer, e que há uma situação séria a ser enfrentada.
No primeiro parágrafo da terceira e última coluna lê-se “A proposta de instalação de ciclovias provocou a resistência de muitos técnicos dentro da própria CET, preocupados com os riscos inerentes a esse meio de transporte. Os defensores da iniciativa, porém, afirmam que a construção de corredores exclusivos reduzirá os riscos de acidentes”. Bota resistência dentro da CET e por isto venho discordando da posição deles há décadas. Só tenho sérias dúvidas de que se tivesse tido outra forma de aproximação e contato teríamos hoje outra posição e resultados. Para quem me conhece sabe que não preciso me confessar para dizer que minha fala pode ser claramente posicionada, mas é muito agressiva, portanto ruim. E já que sou briguento, como dizem e aceito, venho brigando com meus iguais, ciclistas, contra este discurso bobo sobre a ciclovia, a segregação, como salvação. A meu ver a solução é outra, muito mais ampla, muito mais abrangente, integrada, começando pela bicicleta em si, passando pela questão legal e terminando na falta de cultura do que é uma cidade e a bicicleta e de como usá-las corretamente. Soluções mágicas sempre são atraentes. Ausência é mais tranqüilo ainda.
Neste domingo será inaugurada “uma faixa de lazer para as bicicletas”, nas letras do jornal, ligando os parques das Bicicletas, Ibirapuera e do Povo. Funcionará só aos domingos pelas manhas entre 07h00 e meio dia. As marcações já estão pintadas no asfalto, placas aéreas estão instaladas e funcionários da CET e pessoal de apoio estão prontos para ir às ruas para evitar problemas. Eu fico aqui na reza para que tudo dê certo, porque meu coração está muito apertado. Já escrevi que não gosto nem concordo com as soluções técnicas que foram adotadas. Também escrevi um texto sobre “pelo menos fez algo”. Ciclista pedalando a esquerda de avenida, mesmo devidamente sinalizado, segregado por cones e faixas, e ainda fartamente vigiado, me dá arrepios! Principalmente se for com data e horário determinado por uma simples sinalização aérea. Dá arrepios. Faço votos para que dê tudo certo e que se estenda para o resto da cidade, mas, de novo, a razão alegada pela CET de manter os ciclistas no bordo do canteiro central é para não atrapalhar a fluidez do trânsito motorizado e os lotes lindeiros. Um passo a frente no lazer, dois atrás na boa educação do ciclista e do trânsito.
Os ciclistas pedalarão segregados do trânsito e cruzarão ruas e avenidas com o suporte de babas, sem querer ofender. Aceitarão as babas? Segrega-se o que é impossível de conviver, o que causa problema, o que não tem condições de compreender a realidade. Será que o ciclista é tão imbecil assim? Como se justifica a falta de banho de sangue dos 700 mil ciclistas por domingo admitidos pela própria Prefeitura? Sim, há um problema de segurança no entorno do Ibirapuera e de outros parques, mas a razão talvez não seja unicamente a circulação da perigosa bicicleta. O que mais causa acidentes? Como? Onde? Por que? Quando? Com quem? Sobe responsabilidade de quem? Etc...
O número de ciclistas circulando em dia de trabalho em São Paulo, 305 mil segundo o jornal, prova que pedalar na cidade é possível e não é tão inseguro assim. Ou temos um distúrbio psicótico em massa de gente que perdeu a noção de perigo. Há quem diga dentro do governo e dos órgãos técnicos que 305 mil é pouco e há bem mais ciclistas do que divulgado oficialmente. Surgiram do nada?
São Paulo teve 86 ciclistas mortos em 2008 (jornal); número alto segundo padrões internacionais nos quais uma das mais ricas metrópoles do mundo deve mirar-se, mas que não destoa muito da guerra do trânsito que vivemos. Quando se tem conhecimento sobre o ótimo trabalho, realizado pela própria CET, de levantamento de dados sobre estas mortes e suas causas este conceito de que pedalar na cidade é muito perigoso pode começa a mudar. Fica claro o óbvio que a cidade não é perfeitamente homogênea. O perfil da maioria das vítimas é população de baixa renda, trabalhador, adulto pedalando em locais extremamente perigosos e inapropriados para qualquer ciclista, onde há veículos de grande porte, ônibus, caminhões, vans, e ou velocidade alta. Inexiste perícia técnica especializada no veículo bicicleta, portanto é impossível saber se houve alguma falha mecânica, tão comum nas nossas bicicletas populares. Mesmo assim é possível concluir que pedalar em algumas áreas tem tudo para não dar certo. Usar esta premissa com tábua rasa é, a meu ver, um erro.
Mas temos que concordar com todos que recitam que pedalar no trânsito é perigoso. A frase vem sendo repetida em ladainha desde que me conheço por gente deve estar correta. A maioria que pedala sem ter acidente sem dúvida está errada. É lógico que a maioria não sabe bem sobre o que se trata, não quer saber e tem raiva de quem sabe, mas tenhamos uma certeza: usar bicicleta é sempre perigoso. Não importa o que se diga ou prove em contrário. Pavlov que o diga!
É do ser humano ter medo do que desconhece. Creio que seja o que aconteça com a questão da bicicleta. É do ser humano enxergar só o que lhe convém. Todos nós fazemos isto. É óbvio que a bicicleta sempre existiu em São Paulo. Documentos sobre a história desta cidade mostram que antes da década de 60 a bicicleta era muito usada. Como em todas partes do mundo ela teve um quase desaparecimento nos anos 70 e 80, mas partir do início dos anos 90 ela cresceu muito rápido. Mesmo assim não foi visível. Nas periferias nunca desapareceram, mas não interessavam, portanto não eram vistas. Nas das áreas “nobres”, em pequeno número, mas maior do que sempre disseram haver, não causavam problemas, portanto foram desprezadas. Exceto as bicicletas de carga e entrega que iam pelas calçadas, mas a quem interessa o conflito pedestre / ciclista? Se não atrapalhar o fluxo... O fato é que esta massa de ciclistas não surgiu do nada, não apareceu do dia para noite. Mas fazer o que, em São Paulo, uma das cidades mais ricas do mundo, nem sequer se vê o pedestre, um estorno para fluidez dos veículos, e assim sendo morre atropelado de baciada, em números escandalosos. Mas quem se interessa por eles? A própria população? Piada! O governo? Os técnicos de trânsito? Pedestres protestam? De novo, procure ver o perfil dos mortos dos pedestres. Quem são eles a não ser uma massa de invisíveis? A quem interessa baixar este número de acidentados? (OS.: 34% da população de São Paulo transporta-se única e exclusivamente a pé)
“Em São Paulo, os motoristas já são obrigados a conviver com os comboios de motos que circulam entre os veículos, sem respeito às regras mais básicas de trânsito. Se a intenção é estimular também os ciclistas, que seja com o máximo de segurança possível”. Opa!, parece que está caindo a ficha que estamos na eminência de ter uma segunda categoria de motoboys, ou tétricamente “mortoboys”, como queiram. Avisados estão há pelo menos duas décadas que deixar o ciclista abandonado, como ainda está, não iria dar certo. O que temos hoje já é muito ruim, difícil de reverter, mesmo com investimento pesado – que duvido que haverá. Para mim o comportamento do ciclista já é muito ruim. Ele se vê como vítima, se sente agredido, tem cada dia mais raiva do motorista. Creio que já vimos esta história antes.
Eu posso estar profundamente irritado com a forma com que a CET conduz esta questão da bicicleta (e dos pedestres também), mas reconheço que a responsabilidade não é só deles. O paulistano é como cidadão absolutamente imaturo, que não consegue ver sua cidade com o respeito, não consegue enxergar sua vida com a qualidade que um agrupamento urbano deve minimamente oferecer. Parece que quer é brincar de bibi fonfom. Minha preocupação com este corpo técnico que forma a histórica CET é que acredito que eles estão lentamente se auto-encurralando. Estão sendo empurrados para uma encruzilhada onde, como a Geni de Chico Buarque de Holanda, serão responsabilizados por tudo de ruim que a cidade tem. Com a questão da bicicleta eles têm uma oportunidade única de dar a volta na situação. Até mesmo porque, por tudo que li e ouvi de técnicos, a bicicleta pode ajudar muito a resolver a questão dos pedestres, este sim uma vergonha sem tamanho para todos nós.
O que dá algum alento é ver que depois de 35 anos como ciclista saiu em espaço tão importante quanto este do O Estado de São Paulo um texto consistente sobre a questão da bicicleta. E que domingo, na Ciclo Faixa Cidade de São Paulo, a coisa corra bem e que seja o início de um novo tempo. Mas, que caminhozinho torto!

Um comentário:

  1. Ola! Sou estagiário da SPTRANS e estou fazendo um pesquisa sobre Ciclismo, gostaria muito da ajuda de vocês Ciclistas.
    Tenho que entregar uma quanto mais questionarios respondido, melhor para a pesquisa, será até o final de semana.
    Segui abaixo o questionário e o meu email onde vocês poderam responder e enviar as resposta por email. Não leva nem dois minutos para responder ....Muito Obrigado.
    EMAIL: albertocarvalho.vm@gmail.com

    DATA: __/____/ ____ HORÁRIO:_ ______ QUEST: ________Entrevistador:___________

    Região da entrevista: ____ __________________________

    Nome do entrevistado: _ ___ Município: ___ ______________________

    Telefone: _________________________


    1. Sexo: Masc.1 Fem. 2

    2. Idade: _________


    3. Com qual freqüência semanal O (a) Sr. (a) usa bicicleta:
    3 dias por semana ou mais ...............1
    1 ou 2 dias por semana ................. 2
    Menos reqüente ......................... 3

    4. O (a) Sr. (a) usa a bicicleta para qual finalida de?
    Trabalho ...............1
    Escola .................2
    Lazer ..................3
    Outros. Qual? ____________

    5. Nos últimos 3 meses a SPTrans vem ministrando treinamento a motoristas de ônibus para melhorar a convivência com os ciclistas no trânsito.
    Em sua opinião o (a) Sr. (a ) acha atualmente, o respeito ao ciclista por parte dos motoristas de ônibus:

    Melhorou 1
    Ficou igual 2
    Piorou 3

    3.1 Por que? explorar a resposta da P5:

    ______________________

    __________________________________________________________________________

    6. Numa escala de 1 a 10, onde 10 é a melhor nota e, 1, a pior, que nota você daria para o atendimento dos motoristas de ônibus da cidade de São Paulo : RU

    Nota para o Motoristas ( )

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